Crítica sobre o filme "Infratores, Os":

Rubens Ewald Filho
Infratores, Os Por Rubens Ewald Filho
| Data: 26/10/2012

Estava achando o filme badalado demais, com um elenco famoso, uma participação no Festival de Cannes, até quando percebi que ele é uma produção dos Weinstein (ex-Miramax) que sempre conseguem mais espaço e prestigio para tudo que fazem. Estava um pouco descrente do resultado até finalmente conseguir assisti-lo (o Cannalonga já tinha publicado aqui uma apreciação que me pareceu que bastava, mas como gostei do filme resolvi também dar o parecer).

Grande parte da crítica saudou o diretor australiano como se fosse alguém importante. Acho precipitado, ele tem um controle visual e usa um fotografo de bom gosto, de forma que traz belas imagens, mas não se pode dizer ainda que seja um autor ou se virá a ser algum dia. No sistema americano, os diretores são contratados pelo produtor e este é quem manda. Hillcoat tem que fazer o que o Weinstein quer.

No entanto o filme foi rejeitado pelos americanos (37 milhões de dólares de renda) apesar de suas qualidades. É engraçado que filmes sobre contrabandistas de bebidas, em geral caipiras do interior, eram uma velha tradição do cinema dos anos 30 e 40. Mas fazia tempo que não se via um igual, ainda mais com o pedigree de ter sido baseado em livro (disponível no Brasil) escrito pelo neto, que conta a história de sua família da Virginia.

Certamente por aqui o filme nasce Cult por ter sido roteirizado pelo compositor Nick Cave, que continua badalado por estas bandas, mas que nem por isso demonstra grandes habilidades. Por exemplo, ele constrói desde o comecinho a história do irmão caçula (depois Shia Le Boeuf, se esforçando para ser pretensioso e chato) que não tem coragem de matar (nem porco) e tanto faz que obviamente a cena final dele teria que ser matando (finalmente diz o espectador). Se possível o maior vilão! Depois o filme ainda tem alguns minutos ate o final irônico.

Mas do que eu gostei foi do clima de tensão, da violência seca e por vezes brusca, da interpretação marcante e intensa do inglês Tom Hardy (que ainda esta grande (de corpo porque tinha acabado de fazer o Bane de Batman o Cavaleiro das Trevas Ressurge) que sustenta todo o drama fazendo o mínimo possível. A ação se passa em 1931 em Franklin County, Virginia durante a Lei Seca, quando uma família (três irmãos) fabrica a melhor bebida da região e vive de seu lucro. Ate quando aparece um político corrupto que deseja que lhe paguem pedágio. Os Bondurant se recusam e enfrentam o policial que veio junto para implantar o terror. O papel de Charlie Rakes é feito pelo australiano Guy Pearce, que depois de Priscila, a rainha do Deserto tem se dedicado a se tornar ator característico, especialista em tipos e composições. Muito magro, ele sempre livrou a cara mais do que deu certo. Aqui ele parte para fazer um personagem a beira do caricato. Talvez por isso, tão carregado, que fazem com que sua cena mais forte seja no escuro! Mas ao menos deixa sua marca.

Na soma disso tudo, quem ajuda é um alivio romântico não muito convincente (Shia resulta irritante) onde porém Mia Wasikowska faz a filha do pastor que ele paquera, com bastante charme (ela é ideal para esses personagens meio fora de época). O romance de Hardy com Jessica Chastain (aqui loira), uma ex-prostituta que foge do passado é resolvido com o mínimo de diálogos e assim fica mais eficaz.

Enfim, mesmo que não seja o sucesso comercial que esperavam Os Infratores é um filme muito interessante e que me agarrou o tempo todo. Não sei dizer quem é o autor e acho que não importa. Alguém fez a coisa direito por ali.