Crítica sobre o filme "E Agora Aonde Vamos?":

Rubens Ewald Filho
E Agora Aonde Vamos? Por Rubens Ewald Filho
| Data: 09/11/2012

Sou entusiasta do filme anterior desta mesma diretora que foi Caramelo (2007), um filme muito feminino, muito especial, um dos raros que já assisti sobre a sociedade libanesa, dirigido pela bela atriz principal Nadine, e todo construído em torno de um salão de beleza.

A sociedade libanesa que se mostra não é maometana, mas católica, nem por isso menos hipócrita e moralista. E as mulheres são as maiores vítimas, ainda que não seja essa a proposta do filme, que se disfarça de comédia romântica, mas basta ler a história com mais cuidado para sentir que o casamento é mais uma forma de prisão e que o filme termina com uma situação de libertação, a moça que, influenciada pela lésbica não assumida, corta os cabelos curtos, que é uma forma de rebeldia, um começo, ao menos.

É muito tocante a imagem do título, o caramelo que é usado não apenas para adoçar a boca, mas também para fazer a depilação feminina, ou seja, adoça e dói. O bonito é o subtexto, alicerce onde se constrói com imagens as variadas histórias de amor e sobrevivência. Tudo muito terno, encantador.

O novo filme de Nadine, visto em Cannes, tem tido menos aceitação porque é menos ocidental, é rural, se passa no interior do país e tem a estrutura de filme típico deles, parecido com o indiano porque é todo entrecortado por canções. Sem mais nem menos, no meio da ação começa uma música, uma cantilena que assusta um pouco nosso espectador preconceituoso. Além de tudo, a história acaba sendo uma alegoria, simbólica (o que é outra coisa que o público tem dificuldade de apreender). Mas eu embarquei completamente no bom humor com que se conta uma história que é trágica porque real (um pouco à Fonte das Mulheres).

Passa-se numa pequena aldeia do interior do Líbano, onde existem mulçumanos e cristãos, que frequentemente estão se peleando. Começando uma procissão de funeral que vira um número de dança, mulheres vestidas de negro, cristãs e mulçumanas naquela vila cercada de minas explosivas. É impossível que não tenham seus conflitos e disputas. Mesmo com o padre e o Iman tentando apaziguar. Para acabar com as brigas, as mulheres inventam uma solução. A esposa do prefeito inventa uma comunicação miraculosa com a Virgem Maria, seguida por um grupo de coristas da Ucrânia que são recrutadas para distraírem os homens enquanto elas sabotam a televisão que está dando notícias que potencialmente podem gerar conflitos e brigas feias entre os homens da aldeia. E elas fazem tudo para evitar isso.

O pior problema é quando um rapazinho da aldeia é morto por fogo cruzado quando foi buscar provisões. A mãe finge que ele está de cama para evitar uma vingança, elas resolvem dar sedativos para seus homens para evitar a luta. Também uma subtrama meio Romeu e Julieta, envolvendo a diretora que é católica com um muçulmano.

Fazer comédia com um tema explosivo como este não é coisa fácil e, como se prevê, não para todo público. Mas eu curto sua música vibrante e sua mensagem sempre ousada e atual.