Crítica sobre o filme "Holy Motors":

Rubens Ewald Filho
Holy Motors Por Rubens Ewald Filho
| Data: 22/11/2012

Nestes anos que estamos aqui juntos, já comentamos vários filmes bizarros e esdrúxulos. Mas nenhum tanto quanto esta produção francesa que é uma trip pessoal do seu diretor Leos Carax, que já foi dos “enfants terrible” do cinema europeu e estava afastado desde Pola X, um filme ruim com uma ceninha de sexo explícito.

Difícil de descrever o filme e fácil de falar mal. Sem dúvida, é o tipo do filme indulgente a que só deve assistir o iniciado, o admirador, o que tenha paciência com delírios de um cinéfilo, embora nem sempre se consiga definir o que ele está homenageando. Extremamente criativo e desconexo, é antes de tudo um veículo para o ator preferido de Carax, que continua sendo o Denis Lavant, que se desenvolveu como transformista e malabarista. Ele interpreta aqui 11 personagens, nem todos com nomes (Monsieur Oscar, o banqueiro, o pedinte, o ator que trabalha na sequência de efeito especial com “Motion Capture”, Monsieur Merde, o pai, o acordeonista, o matador e a vítima, o moribundo, o homem no foyer).

É curioso também ver as explicações que apareceram para o título do filme, 1) literalmente se referiria ao estilo de casa em que vive a chofer 2) Carax detesta a câmera digital que teve que usar (e que, aliás, faz belo uso, a fotografia é excelente), e teria dado o título em homenagem a idade de ouro do cinema com película, quando no set na França se dizia “motor, câmera, action! Não que faça muita diferença. Depois dele próprio abrir as portas da fantasia, começa a viagem de limusine conduzida por uma mulher (é a veterana atriz Edith Scob, que ao final usará uma máscara que será uma citação clara do filme Les Yeus Sans Visage, de Georges Franju, num papel que foi vivido por ela mesmo.

Mas nessa viagem qualquer coisa pode acontecer, quase sempre com Lavant se maquiando para o personagem. Há poucas aparições de famosos: Eva Mendes tem que enfrentar Lavant com uma ereção (falsa) que parece deixá-la constrangida, a cantora australiana Kilie Minogue tem realmente a chance de cantar no que são os restos do famoso magazine La Samaritaine, numa cena de bastante impacto. E Michel Piccoli tem pouco mais do que uma frase, no que parece ser referências a web sites e o mundo virtual.

Mas parece mais uma viagem por diversos gêneros (mais do que filmes), numa jornada semifuturista que podemos definir como surrealista e mesmo absurda, explicável apenas pela lógica do cinema ou do sonho.

1) Vestido no que parece ser samurai, o herói trabalha com moça com roupa para captar imagens de animação. Faz acrobacias e simula sexo. Como o resto do filme é experimental e visualmente forte.

2) Ele virão Senhor Merda que perambula pelos esgotos e cemitérios até capturar a modelo Eva Mendes (que se veste de burka!).

3) Visita os gêneros: filme de gangster, toca sanfona como em filme de Kusturica, drama de pai e filha, cena de morte na cama e o romance musical. Com tudo isso não espere grandes explicações. O astro Lavant não é naturalmente carismático ou bonito, apesar de seu tour de force. O mesmo se pode dizer do filme.