Crítica sobre o filme "Bullying":

Rubens Ewald Filho
Bullying Por Rubens Ewald Filho
| Data: 07/12/2012

O filme começa no primeiro dia de aula. Para esses 13 milhões de garotos é um dia cheio de ansiedade e nervosismo. Quando os ônibus escolares partem levando os alunos é uma viagem para o desconhecido. Para muitos dos alunos a única coisa certa este ano é que eles serão agredidos, ameaçados e ofendidos!”.

Na falta de um nome adequado em português ficou o inglês mesmo. Hoje já não precisa explicar mais, todo mundo sabe o que é bullying, mais um mau costume que importamos dos americanos. Não que a gente fosse diferente, se puxar assunto sempre vai ter alguém que passou apertado na escola, por causa de algum colega briguento ou metido a valente que se considerava acima das regras e da lei. E o gordinho, o magrinho, o com jeito de gay, ou seja, qualquer um que fosse “diferente” era a vítima preferida. Ou apanhava e ficava quieto. Mas era melhor reagir. Apanhava, mas adquiria respeito.

Não é uma coisa que eu tenha tido experiência pessoal. Era gordinho, mas também era forte, alto, nadador, impunha respeito. As poucas tentativas de se meterem a engraçado comigo logo morreram porque não era o biótipo, como diziam, eu era durão. Francamente não me lembro dos bullys do meu tempo serem belicosos como os que eu vejo hoje em dia.

E vendo o filme dá para entender o porquê. Todos os casos esbarram num mesmo problema que temos aqui no Brasil. Mudou o ensino, o professor não pode nem tocar mais no aluno, virou vítima e prisioneiro deles. Antigamente havia disciplina, castigo, ordem, direitos, deveres. Tudo fora de moda e descartado hoje em dia em prol não sei bem do que. Mas sem eles o educador fica sem armas.

E como é mostrado no filme, não adianta os pais irem reclamar, eles dizem que não podem fazer nada. E os pais do agressor nem se tocam, nem se importam. E não permitem que os filhos sejam castigados (hoje na TV vi gravações amadoras que registram um mãe acho que no Paraná entrando na briga da filha e batendo na rival da filha. Jogando-a no chão e depois chutando nela! Isto neste país conhecido por sua cordialidade).

Acho que o primeiro filme que vi tratando desse assunto era bem-humorado, foi em 1980, Cuidado com meu Guarda Costas, onde um garoto magrinho contratava um grande bobão para protegê-los dos que queriam lhe agredir. Dali em diante esse tipo de personagem foi constante em muitos filmes, praticamente todos sobre adolescentes já realizados.

No entanto, só com este documentário que finalmente o assunto foi abordado a serio (e assim mesmo tiveram que brigar com a auto censura que o tinha proibido para menores (com um R, por causa de palavrões na cena do ônibus. Ou seja, frustrando sua proposta que era justamente atingir os estudantes. Depois da ameaça de lançar os filmes sem censura nenhuma, conseguiram mudar a censura para PG-13, já que o filme finalmente realmente nem é especialmente violento. Só moralmente.

Ele começa com o depoimento de um pai com imagens de seu filho amado desde pequeno. Mas sua vida é roubada quando o garoto ainda pré-adolescente, cansado de ser humilhado, atendeu a sugestão dos colegas e se enforcou (num armário). Sua morte podia não ter consequências, mas tem servido ao menos como bandeira dos pais e amigos que carregam a bandeira de que é preciso fazer algo. Ao todo, são cinco casos que são acompanhados durante um ano letivo.

O mais triste talvez seja de uma menina negra Já´maya que se defendeu com uma arma na mão e depois foi processada com 22 acusações de atentado com arma. Ou a garota Kelby que era uma respeitada atleta até quando se assumiu como gay e daí em diante passou a ser escorraçada, chegaram mesmo a tentar atropelá-la com um carro.

O filme não tenta explicar ou entender os comos e porquês. Sua preocupação é registrar e testemunhar os fatos (as vezes conseguindo mesmo gravar algumas agressões autenticas). Apresenta a passividade trágica dos professores e autoridades. Ninguém faz nada, ninguém quer fazer nada. Dizendo que não podem. E tudo continua como sempre. Fazendo vítimas. E o único conselho que dão é reagir. Provar que é corajoso e forte. Como se violência contra violência fosse uma solução.

Bullying ganhou alguns prêmios no circuito de Festivais (Hamptons, Silverdoc, Bergen ) mas merecia mais e maior atenção. Que bom que os documentários americanos ao contrário dos nossos se preocupam com denúncias e problemas, tem algo a dizer.

Eu concordo com Roger Ebert que a melhor cena do filme é a do professor que aparta uma briga e depois passa uma descompostura num deles, errando tudo. Esse era a vítima, já que o agressor naturalmente era simpático e cordial diante da autoridade. Uma cena que na sua simplicidade já diz tudo.