Crítica sobre o filme "Liv & Ingmar - Uma História de Amor":

Rubens Ewald Filho
Liv & Ingmar - Uma História de Amor Por Rubens Ewald Filho
| Data: 13/12/2012

É o melhor documentário que eu vi nos últimos anos, o mais tocante, mais bonito, o mais emocionante. E me fez mais uma vez me apaixonar por Liv Ullman, que sempre considerei a melhor atriz de cinema do mundo e por quem já tinha tido paixões anteriores, nas duas vezes em que a entrevistei no Festival de Cannes, quando ficamos de mãos dadas durante a maior parte do tempo da conversa. E outra mais recente quando veio relançar o livro autobiográfico Metamorfoses (parte da entrevista, quando chora falando sobre Bergman está no YouTube).

Claro que o livro dela é dos melhores que muita gente leu. O que encontramos lá é mais uma vez confirmado neste belo documentário, Liv já envelhecida, sem medo de revelar a idade, é uma mulher sensível, inteligente, corajosa e que fala como se fosse poesia. Não tem medo de se abrir, de se revelar, contando com carinho o que foi não apenas o casamento com um gênio difícil como Bergman, mas principalmente a longa trajetória que fez esse amor se transformar numa firme e sincera amizade. Liv passou a dirigir nos últimos anos os roteiros que Bergman escrevia e ela descreve um fato para nós ainda desconhecido de que, como levada por uma intuição, alugou um avião e foi até a ilha de Faro, onde ele morava e passou um dia inteiro com ele. Naquela noite, não se sabe em que horas, Bergman morreu.

Realizado por um jovem cineasta indiano de curta, mas ambiciosa carreira, o filme não tem medo de ser bonito. Começa numa casa na Noruega, a beira de um céu azul e mar revolto, onde mora Liv. Aos poucos desvendemos sua acolhedora casa, que não deixa de ter certa semelhança com a de Ingmar. Depois dividido em blocos (casamento, amor, solidão, amizade) vamos ouvindo o que Liv tem a dizer, o primeiro encontro para fazer Persona.

Todo o filme é entremeado de cenas dos primeiros filmes que eles fizeram juntos e mais tarde os outros e servem para demonstrar que o rosto de Liv é uma expressividade incrível. Isso para não mencionar seus incríveis e cristalinos olhos azuis. Curiosamente não se menciona o fato dela ter recusado Fanny e Alexander para fazer um filme americano ou coisa que valha e depois ter se arrependido. E Ingmar ter ficado aborrecido.

O começo na ilha é tudo muito bom, ele vai até a Noruega e a convence de vir morar com ele. Ambos largam dois casamentos e iniciam a aventura, mas as coisas se complicam. O lugar é inóspito, ele gosta de solidão e sossego para escrever, ela se sente solitária. Eventualmente o casamento se destrói (um dos casos mais simpáticos é ela contando que ao voltar para a Suécia, as colegas de trabalho e ex-namoradas de Ingmar estavam todas a esperando no aeroporto com cartazes positivos Bibi Andersson, Harriet Andersson, Gunnell Lindblom).

Também fala da carreira internacional e como foi chamada de a nova Garbo, fez Broadway, até musical. Mas o miraculoso é como voltaram a ser próximos, principalmente quando a mulher seguinte, Elizabeth, a quem ele era muito ligado morreu. Passaram a ser muito amigos, confidentes, isso até o fim da vida dele. Tudo o que Liv diz parece sincero, justo e definitivo. O filme tem um probleminha porque o diretor não sabe se decidir e acaba tendo cinco finais. Tudo bem, porque todos são bonitos. Difícil não chorar, principalmente nós que somos fãs do casal. Que ficamos felizes que eles tenham vivido tão bela história de amor registrado num filme tão respeitoso e que não tem medo de ser plástico.