Estou consciente de que o Natal já passou assim como as festas de Réveillon, mas só agora me dei conta de que este filme sobre a temática virou cult e foi celebrado pela revista Entertainment Weekly como o melhor longa contemporâneo sobre festas de Natal.
Nos Estados Unidos, ele tem sido consumido assim pelos fãs de comédia romântica e do escritor Richard Curtis, que é considerado o mestre britânico do gênero (já que escreveu Quatro Casamentos e Um Funeral, Notting Hill, O Diário de Bridget Jones).
De tal forma, que contam que ele tem direito ao chamado “corte final”, ou seja, manda mais do que o diretor. Portanto, era lógico que passasse também a dirigir logo.
É bom lembrar também que Curtis foi o principal criador da figura de Mr. Bean (por isso Rowan Atkinson está presente aqui), e que depois fez relativamente pouca coisa, o telefilme The Girl in the Café, 05, escreveu episódios de série (Dr.Who, The Vicar of Dibley), escreveu e dirigiu o mal sucedido Os Piratas do Rock (The Boat that Rocked, 09), ajudou no script de O Cavalo de Guerra, de Spielberg (isso não dá para perdoar) e ultimamente dirigiu About Time (13) com Bill Nighy, Rachel MacAdams, e o telefilme Mary and Martha (13), para Philip Noyce com Hilary Swank.
De qualquer maneira, consegui comprar o Blu-ray do filme por um preço bem acessível e confirmar que eu sempre gostei do longa. Fico feliz que mais gente concorde comigo. Originalmente Simplesmente Amor foi lançado aqui simultaneamente com os Estados Unidos, pelo tema natalino e certamente pela presença de Rodrigo Santoro no elenco.
Este é o primeiro trabalho como diretor de Richard Curtis. Era lógico que passasse também a dirigir logo. Seu novo filme é muito agradável, divertido, tem bons diálogos, excelentes atores e situações curiosas. Mas tem-se que perdoar o problema óbvio de fitas com excesso de personagens (são oito casais), já que alguns deles são prejudicados. E como ainda por cima se passa na época natalina, há um excesso de clímaxes, de resoluções semelhantes (quase todas convergem para um final em comum, numa festa infantil natalina numa escola para crianças. Os que não estão presentes ali são os que chamei de prejudicados).
Os problemas, portanto, são inerentes ao próprio gênero e difíceis de contornar. Rodrigo faz o interesse amoroso de Laura Linney, uma das melhores atrizes da geração dela. Ela faz uma empregada de escritório americana em Londres, que é apaixonada secretamente por um colega, que é Rodrigo (não se menciona sua nacionalidade e pelo sotaque não dá para perceber, até porque desta vez ele fala, mas não muito). É das histórias com que a gente mais se identifica e mais torce. No entanto, é a que tem a mais fraca resolução, ao menos em termos de público.
O filme torna a usar novamente a mesma música tema de Quatro Casamentos e um Funeral (e também abre com um casamento e um funeral), Love is All Around, só que desta vez num arranjo natalino, que é interpretado por um cantor veterano, apresentado como o “Lobo Mau do Rock”: Billy Mack (Bill Nighy). Ele será uma figura recorrente porque suas apresentações na TV ajudarão a unir as histórias.
Existe um homem de meia idade (Alan Rickman) que está sendo paquerado pela secretária, para desgosto da esposa (Emma Thompson). Um novo Primeiro Ministro solteiro (Hugh Grant, muito engraçado) que se interessa por uma funcionária (Martine McCutcheon, que se dedicou mais a sua carreira de cantora) naturalmente há referências a Tony Blair e um presidente americano feito por Billy Bob Thorton.
Tem mais: Colin Firth (ainda não tão famoso quanto hoje em dia) é um escritor que se envolve com uma empregada portuguesa na sua casa em Provença (e grande parte dos diálogos deles é em português de Portugal, até quando ele tenta aprender a língua. Outro charme do filme, ao menos para nós). Keira Knightley (Piratas do Caribe) acabou de se casar e descobre um segredo sobre o melhor amigo do marido.
Liam Neeson ficou viúvo e tem problemas para se comunicar com o pequeno enteado, até o momento em que o garotinho – que fala como gente grande – revela que está apaixonado (e o filme politicamente correto, pergunta se é ele ou ela?). A gente até se esquece de tramas menores (um rapaz inglês que acha que até em Milwaulkee, nos EUA, terá mais sorte com garotas do que na Inglaterra).
Há também duas aparições curtas do amigo do diretor, Rowan Atkinson. E pontinhas de Denise Richards, Shannon Elizabeth, Claudia Schiffer, Elisha Cuthbert (da série 24 horas). É verdade que o filme não é um total acerto, mas como disse, pela própria estrutura e o fato óbvio de que certas histórias funcionam melhor que outras (e algumas poderiam ser eliminadas). Mas não custa muito gostar do filme e se divertir com ele. Dá até para se assistir de novo. Com prazer.