Crítica sobre o filme "Nasce uma Estrela":

Rubens Ewald Filho
Nasce uma Estrela Por Rubens Ewald Filho
| Data: 28/04/2013

É um absurdo que nunca tivesse sido lançado em Home Video no Brasil este drama musical que foi um imenso sucesso no Brasil, onde ficou meses em cartaz porque o público feminino se apaixonou pela mistura de música e romance (naturalmente se esquecendo que a história já havia sido aproveitada duas vezes antes pelo cinema em 37 e 54, em dois filmes de qualidade). A proposta da refilmagem foi do então namorado de Barbra, o cabeleireiro Jon Peters (que inspirou o filme Shampoo) que achou que daria um bom veículo para ela. A dificuldade foi encontrar um ator que quisesse compartilhar o estrelato com alguém tão vaidoso e difícil quanto Barbra. É fundamental você ouvir o comentário em áudio que ela fez para o filme todo, em que ela explica algumas de suas idiossincrasias. Por exemplo, no filme ela usa roupas tirada de seu próprio armário porque ela coleciona roupas antigas (antiques) e além disso não tinha tempo para correr atrás de roupas! O filme tem até certo empenho visual porque a diretora de arte foi Polly Platt, famosa por sua parceria nos primeiros filmes de Peter Bognadovich, seu ex-marido. Entre outras manias: não gosta da verde ou cor de rosa estourado, acha que jardins tem que ser extensão dos interiores, ela não gosta de dublar as canções, assim sempre que a música é gravada de perto está sendo filmada ao vivo (mais ou menos com em Os Miseráveis, que dizia isso ser novidade!), só dubla quando é tomada ao longe e isso desde sua estreia em Funny Girl. Como ela diz que veio do teatro, gosta de tomadas longas e completas e sem corte como é habitual em outros filmes. Tem que ter continuidade dramática. Essas são algumas apenas das exigências da estrela e a razão porque a tornaram tão odiada como diretora (ela já dirigia mesmo aqui, de tal forma que o diretor que assina Pierson, futuro presidente da Academia rompeu com ela para o resto da vida chegando a escrever artigos descrevendo sua horrível experiência). 

Também para este filme ela - que por sinal não lê música! - resolveu aprender a tocar violão (e teve que cortar as unhas da mão esquerda, o que a deixou abalada!) e assim compor músicas. Uma delas justamente foi Evergreen (por sinal uma bela melodia) que acabou lhe dando um segundo Oscar, como compositora (foi a primeira mulher a ganhar como autora de melodia, todas as outras eram letristas!). O filme por sinal foi indicado também como melhor fotografia (Robert Surtees), som e trilha adaptado (arranjos).

A proposta original era chamar Elvis Presley para o papel principal e a princípio ele gostou da ideia, mas o seu empresário não deixou, achando que o personagem podia ser confundido com o próprio Elvis (que na época já tinha problemas com drogas e iria morrer por causa delas). Falaram com Neil Diamond, Marlon Brando e Mick Jagger, mas acabaram ficando com o cantor country Kris Kristofferson, que tinha já certa experiência como interprete (como em Alice não Mora mais Aqui de Scorsese, Tragam-me a Cabeça de Alfredo Garcia e Pat Garrett e Billy the Kid, ambos de Peckinpah). Ele é bonitão, discreto, simpático e nada pretensioso (fatos que comprovei quando o entrevistei, tipo boa gente e se mostra muito doce na tela junto com Barbra. Embora não haja a menor química entre eles! Talvez porque como ele mesmo admite estava bêbado a maior parte do tempo e não tenha se dado também com o diretor).

Barbra confessa que o romance do casal se inspira no próprio relacionamento dela com Peters. Que foi ideia dela gravar o show de rock ao vivo cobrando ingressos da plateia, o que reuniu mais de 70 mil pessoas em Phoenix, Arizona. O projeto foi feito para a produtora independente chamada First Artists que reunia além de Barbra, Sidney Poitier, Paul Newman e depois Dustin Hoffman. O Acordo era que a Warner cobria o orçamento até 6 milhões, mas dali em diante ficava por conta de Barbra, que tinha ainda o direito ao corte final. A First era inspirada na United Artists, mas só produziu fracassos e logo faliu (este foi a exceção). 

O roteiro faz sua crítica aos fãs e repórteres. O futuro Freddy Kruger, Robert Englund faz o fã inconveniente (que são realmente frequentes e costumam puxar briga) e noutra hora ela xinga os câmeras (vocês já não gravaram o suficiente?). Acha que o público em grupo como plateia é inteligente e perceptivo, mas não individualmente. Que tem medo de público porque uma vez levou um susto porque estava num carro que foi atacado por fãs que balançavam o carro e o ameaçavam virar. Barbra também admite que era ignorada quando criança e jovem e por isso sempre fez tudo para chamar a atenção (isso fica claro em seus filmes, onde sempre alguém a elogia, aqui é seu traseiro que leva os cumprimentos!). Por outro lado, traz uma semi nudez na cena na banheira (ela gosta da transição que saiu do negro para o rosa). 

É engraçado como foi sucesso o filme mesmo quando suas canções (fora Evergreen) não são memoráveis e parecem envelhecidas. E comparando com as versões anteriores é sempre inferior nos momentos famosos (aqui o marido faz uma confusão quando ela ganha um prêmio tipo Grammy) e nem mostram a conclusão (o carro some na curva e por sorte uma nuvem encobre um pouco a paisagem). Este foi o segundo filme de maior bilheteria naquele ano e o primeiro filme rodado com o sistema Dolby Surround.