Crítica sobre o filme "Minha Mãe é uma Peça":

Rubens Ewald Filho
Minha Mãe é uma Peça Por Rubens Ewald Filho
| Data: 15/07/2013

Depois de observar o filme ultrapassar os dois milhões de espectadores e observar as plateias cheias resolvi arriscar um filme que estava guardando para assistir depois em Home Vídeo. Fiz bem: em plena segunda feira confusa assisti uma plateia de umas 80 pessoas, saírem felizes e contentes, depois de rirem bastante e não se preocuparem nem um pouco com o fato de que Paulo Gustavo é um homem que está fazendo uma mulher, ou seja em travesti (coisa rara em cinema, como Travolta fez em Hairspray, coisa que como Gustavo ele trouxe da montagem teatral original).

Não sei qual dos envolvidos é o responsável, mas alguém teve a habilidade muito grande de transpor o que era um monologo muito carioca (que não viajava bem porque especifico) numa comédia que cresce muito da metade para o fim e termina gloriosamente mostrando cenas de uma mãe de verdade, aparentemente do jovem diretor Andre Pellenz (ou será do Gustavo?). E todos se alegram na certeza de que mãe é tudo igual até no uso inteiramente fora de moda dos “bobbies” no cabelo. Acho incrível que não tenha visto ninguém reclamar disso e do fato de Gustavo ser um homem grandão e até forte, maior que qualquer um do elenco. E tudo isso ser visto como normal. Ele jamais faz qualquer trejeito e como ator de cinema se comporta perfeitamente, sem exagero (se isso for possível, mas o moço interioriza, interpreta no olho!) sem perder sua principal característica que a arte de ofender.

Não sei nem se ele sabe disso, mas Paulo Gustavo é o primeiro humorista brasileiro que está se especializando numa arte norte-americano de ofender os famosos e amigos, muitas vezes em festas (roasts) e celebrações onde dizem barbaridades. Sem realmente deixar ninguém aborrecido ou zangado. Podem imaginar como isso é difícil. Pisar numa corda bamba (aqui se usam alguns palavrões que podiam ficar de lá. É um truque fácil que podia ser descartado, não por moralismo, mas por evitar o clichê e a facilidade), mas o personagem da mãe é um exercício brilhante nisso que ela vai aperfeiçoando no decorrer do filme (a solução da teve pode lhe dar mais frutos, já pensou se ele envereda por falar mal de nosso atual governo?). 

Foi ótima ideia rodar em Niterói, uma bela cidade muito mal explorada pelo cinema e num apartamento de classe média alta (o filme prova para a Rede Globo que não é preciso descer seu padrão para fazer sucesso (um detalhe: a plateia se frustrou porque ficou esperando a heroína jogar um balde de água na cabeça da Ingrid quando elas falam pela janela !). Dona Herminia é mais cafona que Dona Xepa, mais maloqueira do que devia, mas nem por isso perde a classe. Enfim, seu estilo de classe. Acho que é isso. A madame mantém seu estilo).

 

O filme começa meio esquisito com Herminia esbravejando a torto e a direito, no que poderia transforma-la numa total megera. Implicando com a filha baleia (porque gorda demais) e o filho gay (o que é mal aproveitado, ela deveria em nome do politicamente correto e mesmo do bom senso ter se único a ele de mais perto, participando de sua vida alternativa). até quando ela sai de casa, vai morar com uma tia (a deliciosa Suely Franco) e vão aparecendo os flash-backs, onde se mostram “causos” das crianças quando pequenas. Quando ainda assim não conseguem tornar Herminia humana e “gostável” apelam para o irresistível e matam um personagem num acidente de carro. É esse truque que faz a diferença e aos poucos Herminia passa a ser percebida diferente pela plateia, de maneira que não é difícil prever as conclusões. O fato é que o filme fica mais divertido e termina tão bem que já estão anunciando a continuação.

É só prosseguir na mesma fórmula com o diretor vindo da comedia de TV mantendo sua narrativa enxuta e sem novidades (contando com a boa vontade de amigos como Ingrid Guimarães que mesmo sendo hoje estrela aceitou o ingrato papel de megera). E quem sabe até alçando maiores voos.