Crítica sobre o filme "Voz Adormecida, A":

Rubens Ewald Filho
Voz Adormecida, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 12/07/2013

O cinema espanhol tem sofrido as dificuldades provocadas pela crise econômica e este filme apesar de muitas críticas negativas, levou vários prêmios. Revelação do Sindicato dos Roteiristas (para Maria Leon, que faz a jovem Pepita) e também levou o Goya da categoria. Também teve Goyas de canção Nana de la Hierbauena, e atriz coadj. Ana Wagner, assim como indicações de filme, figurino, diretor, atriz Inma, ator Clotet e roteiro. Maria foi também melhor atriz no Festival de San Sebastian e outros menores. O diretor Zambrano andaluz de Sevilha como a produção fez antes Solas (99) e Habana Blues (05).

Este é um drama sobre a Guerra Civil enfocado sobre mulheres que apresenta o assunto com certa ferocidade. Ao menos tem algumas sequências de fuzilamento feminino e uma cena muito forte em que uma freira graduada bate violentamente numa mulher acusando-a de comunista! Já nos letreiros o diretor já dá explicações, dizendo e tudo o que sei sobre parece confirmar que logo depois do fim da Guerra Civil Espanhol, o ditador Franco, o Caudilho, tratou sem a menor humanidade os vencidos, que eram quase todos comunistas de carteirinha. Transformou tudo aquilo em Guerra Santa. Diz ter feito este filme em homenagem as mulheres que choraram em silencio, nas portas dos cemitérios, mulheres que sofreram encarceradas, torturas em prisões, muitas vezes morrendo nas mãos de pelotão de fuzilamento. Prosseguindo numa ditadura que perduraria durante mais de 30 anos, isso em plena Europa moderna. 

A Guerra Civil na verdade é um tema fascinante e mal explorado e o melhor filme que conheço sobre o tema é Terra e Liberdade (95) de Ken Loach, talvez porque o diretor além de comunista fosse estrangeiro conseguindo mostrar o caos com humor e distanciamento. Foi como dizem uma espécie de ensaio para a Segunda Guerra Mundial, mas não me lembro de ter visto nada recente sem medo de criticar a Igreja Católica deste crime, uma forma moderna de Inquisição. Os críticos dizem que o filme mostra tudo sem isenção, carregando nas tintas dos maus e endeusando as vítimas. É possível, mas também é capaz deles mesmo trabalharem em órgãos de imprensa comprometidos, já que a Igreja por lá ainda é muito forte.

O fato é que o latino de origem espanhol adora um melodrama e o filme resulta numa enorme choradeira, que o diga a protagonista Leon que se debulha o filme todo tentando encontrar uma solução para sua irmã condenada a morte.

A história começa em abril de 1940 numa prisão de mulheres (e as mulheres temas caras faciais impressionantes que as tornam mais impressionantes ainda, em particular a apaixonante Inma Cuesta, que está grávida. Naturalmente a justiça “militar” é muito relativa, sujeita ao acerto de contas, a pura vingança. Basicamente é a história de duas irmãs andaluzas, que vai trabalhar na casa de um antigo médico madrileno e que só conta com a ajuda ainda que passageira de um resistente, um valenciano (por sinal, Valencia é a terra dos meus bisavós espanhóis).

Não preciso contar a história. Basta dizer que tudo é muito dramático, tendendo ao choro e que talvez tivesse ainda maior impacto caso fosse apresentado com mais distanciamento. De qualquer forma, é bem capaz de ter surgido como resposta aos filmes produzidos pelos católicos radicais que fizeram, por exemplo, There Be Dragons com Rodrigo Santoro.