É realmente impressionante: Xavier Dolan (Eu Matei a Minha Mãe, Amores Imaginário, Laurence Anyways) tem apenas 24 anos e Tom na Fazenda é seu quarto filme. Também é impressionante a maturidade e confiança em suas habilidades que o diretor canadense vem demonstrando filme após filme. Se alguns maneirismos e artifícios estéticos do diretor incomodavam em seus primeiros esforços, aqui são contidos e sufocados em prol de uma narrativa mais plana. O que é necessário já este é o primeiro filme de “gênero” do diretor. Segue uma clara formatação do ‘gênero de suspense/thriller “- Informações importantes sobre os personagens são fornecidas apenas no terceiro ato quando já caminha para seu clímax, a trilha sonora angustiante a pontua os momentos de tensão e há sempre a sensação de que algo importante pode acontecer a qualquer momento depois do primeiro ato.
Tom (Xavier Dolan) dirige até uma fazenda no interior do Canadá para o funeral de seu namorado Guillaume e, para sua surpresa, nenhum membro da família de Guillaume sequer sabia da existência de Tom. Para piorar a situação o irmão mais velho Francis (Pierre-Yves Cardinal) começa uma série de jogos físicos e mentais que torturam Tom e degradam sua mente, jogos esse que consistem em omitir o passado de Tom e Guillaume e criar uma realidade alternativa, para agradar a mãe, Agathe (Lise Roy). Francis é fundamentalmente uma alegoria para o machismo e homofobia bucólica, mas Dolan é sensível o suficiente para construir mais camadas para esse personagem, é possível vislumbrar indícios de sexualidade reprimida e um instinto paternal doentio. Ao longo dos jogos violentos de Francis, Tom aparentemente desenvolve uma variação da “síndrome de Estocolmo”.
O grande texto do filme é a observação sobre a realidade, o que é real e ou o que faz sentir real? Francis é homofóbico e bruto, mas há momentos em que ele aparenta sentir desejos homoeróticos por Tom, mas que logo são reprimidos, ou seja, ele vive uma mentira. Assim como ele obriga Tom a mentir sobre seu passado para agradar Agathe, que, por sua vez, vive na mentira de que seu filho era um jovem perfeito.
Apesar desse filme não ter a mesma potência dramática do anterior “Laurence Anyways” é mais maduro e consistente em seu desenvolvimento. Também é corajoso em algumas das escolhas estéticas, como a mudança de janela (para uma menor) nas sequências de tensão. Vem sendo um processo interessante acompanhar o desenvolvimento desse jovem diretor, que, aparentemente, só tem a melhorar.