Crítica sobre o filme "Que Estranho Chamar-se Federico! Scola Conta Fellini":

Rubens Ewald Filho
Que Estranho Chamar-se Federico! Scola Conta Fellini Por Rubens Ewald Filho
| Data: 29/05/2014

Filme de encerramento da Mostra Internacional de São Paulo e do Festival de Veneza, este documentário revela informações que nem sempre são habituais mesmo pra os fãs de cinema. De que dois grandes do cinema italiano mais que amigos e parceiros eram velhos companheiros de luta numa antiga revista de humor que na época do Fascismo lutava para se manter viva. Primeiro (Federico) Fellini, de Rimini, por isso visto como mestre, o primeiro a fazer sucesso e depois o mais jovem (Ettore)Scola de Trevico (e os dois se encontraram mais claramente numa sequência bela de Nos que nos amávamos tanto,de 74, quando Scola pediu para Fellini e Mastroianni que reproduzissem para o filme a famosa cena da Fontana de Trevi). 

É com uma certa lentidão que Scola narra o primeiro ato que se transcorre todo na redação da revista Marco Aurelio (e descobrimos outros de cinema presentes como o diretor Steno, Scarpelli, Ruggero Maccari). Tudo bem, é didático, meio curioso, mas não fundamental. Depois já damos um pulo depois que Scola vem para a redação e sua presença não é tão interessante quanto Fellini (outra coisa que poucos sentiam sobre ele, que era muito alto e magro, fora o chapéu marca registrada). Há a bela imagem de estúdio contra o pôr do sol, com Fellini sentado na cadeira de diretor, na areia., mas eu só fui me comover realmente na parte final, quando no funeral de Fellini, vem a grande ideia. Scola faz com que ele escape do caixão e saia correndo pelos fundos do estúdio Cinecitta se escondendo em sets abandonados, inclusive carrossel. Porque Fellini não pode, não deve morrer. 

Durante o filme, Scola evita depoimentos antigos gravados e só os usa quando não tem outra alternativa. Deixa para o final uma edição de uns dez minutos mostrando trechos rápidos de praticamente todos os filmes de Fellini. Preciso ver de novo porque me emocionei muito vendo aquelas imagens, já tão familiares. De repente, todas juntas me despertaram para o inevitável. Nunca mais Fellini. E não chorava por ele, mas por mim mesmo, por todas as vezes que eu vi aqueles filmes, revivi aqueles momentos, copiei, aprendi, me enganei num universo mágico e ao mesmo tempo assumidamente mentiroso. Não se trata de um grande filme. Por vezes o técnico formal que sempre Scola leva a melhor sobre ele. Só que finalmente se rende ao que Fellini tinha para mostrar e recordar que vira uma história de amor, amizade, respeito e fidelidade. Entre dois grandes artistas.