Representante oficial de Hong Kong na corrida do Oscar® de filme estrangeiro deste ano, acabou sendo indicado aos Oscars® de fotografia e figurino. Este é o “novo” filme de Wong Kar Wai, foi, na verdade, anunciado como projeto, cerca de dez anos atrás e só agora começa a chegar às salas do mundo. Além do lendário perfeccionismo do diretor, os motivos para tamanha demora ainda são misteriosos, conta-se que o filme foi editado por mais de um ano e que foram feitos três edições diferentes (o corte “chinês” de 130 minutos, o corte do festival de Berlim de 123 minutos e o corte da Weinstein, de 108 minutos. Além disso corre a lenda de que existiria a versão realmente oficial com 4 horas que ele esta recusando liberar!). Tanto demorou a conclusão do filme, que foram lançados, não um, mas dois outros filmes sobre a mesma história e personagem (Ip-Man, o lendário mestre de Kung-fu, mestre de ninguém menos que o lendário Bruce Lee). Infelizmente, a espera não traduz a qualidade do filme, que, apesar de visualmente esplendoroso, peca pela progressão narrativa confusa e sem foco.
Wong Kar Wai, um dos mais respeitados cineastas da Ásia e autor de alguns dos melhores filmes chineses dos últimos vinte anos, como Felizes Juntos (1997), Amor à Flor da Pele (2000), Amores Expressos (1994), nunca foi, tecnicamente, um contador de histórias. É um esteta por natureza e um dos melhores. Em seus filmes de maior sucesso, o enredo e o roteiro eram apenas pretexto para a feitura de algumas das imagens mais bonitas e audaciosas do cinema. Kar Wai fazia uso de todas as possibilidades para criar suas imagens do monocromo para cores ultra-saturadas, lentes grande-angular ou olho de peixe, movimentos de câmera vertiginosos, closes e câmera lenta. E, o mais importante, através das imagens, sons e mise-en-scene, o diretor conseguia aquilo que é mais importante, extrair emoções e sensações verdadeiras do espectador, sem nunca ter que se preocupar muito com o enredo.
Infelizmente, O Grande Mestre além de ser, de certa forma, uma cine-biografia, é um filme que apresenta um roteiro denso, repleto de personagens, tramas e sub-tramas e, como dissemos, a narrativa nunca foi um dos maiores talentos do autor chinês. Combinada ainda com uma montagem paralela de diversas dessas tramas, sub-tramas, que se passam em épocas diferentes e se focam em personagens diferentes, fica bem difícil entender onde o filme está nos levando e porquê.
No entanto, o esteta Wong Kar Wai voltou à velha forma e o filme apresenta uma das fotografias mais bonitas deste ano e as sequências de combate são coreografadas impecavelmente, e o grande talento do diretor fala alto nessas cenas, em que é possível ver muito mais do que duas ou mais pessoas lutando. Tais sequências são pura poesia visual e despertam uma vasta gama de sentimentos e sensações. Wong Kar Wai como contador de histórias, é um grande esteta.
(Esta critica foi escrita por meu assistente Francisco Cannalonga mas resolvi assumi-la com crédito. Claro, porque concordo com tudo. O filme é difícil de seguir, porque há excesso de personagens e tramas. Confuso portanto. Mas eu cheguei a conclusão ainda no meio de que isso pouco me importava e passei a curtir seu esplendido visual, uma fotografia sensacional que dá ao filme um resultado mágico. Tem tanta coisa na vida que a gente não entende e gosta. Coloque entre elas este filme visualmente magnífico)