Sou um grande consumidor de biografias e compreendo a dificuldade de publicar a história dos outros, a não ser que se tenha a licença e consentimento da família do biografado (na França é pior ainda do que no Brasil, não se pode sequer publicar um namoro ou a doença que matou alguém sobre pena de ser processado por violência da intimidade alheia). O diretor Martin Provost, pouco conhecido aqui, passou por uma situação dessas, quando fez sucesso com a biografia de uma pintora no filme Séraphine, 08, que teve êxito de bilheteria e uma interpretação notável de Yolande Moreau (o filme não chegou a sair aqui comercialmente). De qualquer forma ele foi processado pelo autor de uma biografia dela, perdeu o caso e teve que pagar uma fortuna. Sua credibilidade também sofreu e no filme seguinte Où va la Nuit (2011), com a mesma Moreau, foi um fracasso.
Ele tenta de novo com a biografia de Violette Leduc (1907-72), relativamente conhecida como escritora graças a ajuda que teve de sua amiga (talvez algo mais), a escritora célebre Simone de Beauvoir (fala-se de Jean Genet, Louis Jouvet, o editor Gallimard mas não se Jean Paul Sartre, que nos interessaria mais de perto, dado a sua longa e complicada relação com Simone!).
Por mais que me seduzisse ver o filme tenho que convir que ele tem alguns defeitos claros: é longo demais, acadêmico e sem criatividade, dá pouca informação sobre a protagonista e mesmo a atriz central sendo boa e conservada (Emmanuelle Devos já esta entrando nos cinquenta) ela não envelhece nem um minuto no transcorrer da narrativa. Tudo acentua muito o fato de que Violette, nasceu em Arras, Pas de Calais, filha ilegítima de uma empregada e a vida toda seria tratada como uma bastarda (esse seria também o titulo de seu mais famoso livro editado em 64). A mãe era megera, ela foi professora, teve ligações lésbicas (não se mostra nada disso) mas sobreviveu em empregos menores. Em 1942, encontrou Maurice Sachs e Simone de Beauvoir (feito com austeridade e frieza por Sandrine Kinberlain) e Albert Camus publicaria Na Prisão da Pele (L´Asphyxie). Mais tarde publicaria com escândalo Thèrese and Isabelle, 66, que tinha momentos de sexo explicito entre mulheres e Le Taxi (incesto). Nada disso também está no filme. Violette morreria aos 65 anos de câncer no seio. Curiosamente diante de tantas omissões o roteiro foi co-escrito pelo autor de dois livros sobre Violette. Mesmo assim o filme ficou devendo um retrato mais completo e aprofundado.