Cr�tica sobre o filme "Amar, Beber e Cantar":

Rubens Ewald Filho
Amar, Beber e Cantar Por Rubens Ewald Filho
| Data: 29/09/2014

Na última festa do Oscar®, na homenagem aos falecidos tive a chance de acrescentar ao vivo a informação da morte no dia anterior, do grande diretor francês, o genial Alain Resnais (1922-2014) não muito tempo depois de ter ganhado o Prêmio Alfred Bauer no Festival de Berlim e também o da Critica Internacional. Mais acessível e agradável do que o anterior (Vocês Ainda Não Viram Nada, 12) conservou sua mesma obsessão pelo teatro, pelos ambientes restritos e fechados e pela fascinação com a profissão do palco, particularmente do ator e do ensaiador. Ainda que por uma razão muito prática também lhe ajudasse na realização do projeto, já que muito doente, praticamente sem visão só conseguia dirigir em ambientes fechados, com a ajuda de sua fiel equipe (que já entendia tudo o que ele iria pedir) e os atores amigos, liderados pela mulher de muitos anos e muitos filmes, a ótima Sabine Azema.

Que bom que esta despedida seja um filme encantador, romântico, bonito, ainda que mais indicado para pessoas mais maduras e habituadas aos exercícios teatrais do diretor Ayckbourn (pouco conhecido por aqui), foi adaptado antes por Resnais em Smoking/No Smoking, 93, Medos Privados em Lugares Públicos (06) que ficou mais de ano em cartaz em São Paulo. É muito comum na sua inusitada dramaturgia acontecer como aqui quando um personagem fundamental de quem se fala desde o começo nunca seja visto em cena. E ainda uma outra também aparentemente protagonista, a filha, mal é vista ao final.

A gente que sempre tem a impressão de já ter visto coisas semelhantes em peças teatrais admira e se diverte com o talento de Ayckburn que aqui é acentuado com a criatividade da cenografia. Embora se chegue a uma mansão inglesa do interior logo é coberta de panos coloridos e variados, que serão o cenário justamente da peça que será feita ali (aliás outra surpresa, não vemos nada dessa peça! Só o que se comenta dela!).

Por outro lado as conversas e troca de ideias entre os atores são sempre engraçadas e  ditas por experts (para mim foi uma surpresa encontrar Caroline Shiol, já veterana mas de quem não memorizei a presença. Mas é uma perfeição na sua criação da atriz dona da casa).

Não dei um resumo porque basicamente gira em torno de trivialidades da vida dos casais, dos ausentes e da montagem de uma peça. Não importa muito, como não importa noventa e nove por cento do que fazemos e dizemos. Mas nem por isso o deixamos de dizer e fazer.