Finalmente consegui assistir este filme que tinha um título tão equivocado que custava a acreditar. Que Diabos quer dizer Trinta num cartaz de cinema, absolutamente nada. Nem a idade, mas o sobrenome verdadeiro do famoso Joãozinho Trinta. Conta a história do único carnavalesco que até hoje conseguiu ficar famoso nacionalmente, mais que isso virou um ídolo do público que simpatizava com sua presença alegre, criativa, divertida (não convivi muito com ele mas na minha fase Globo no Rio, nos cumprimentávamos amigavelmente e nada dessa presença vemos no filme, onde o personagem é taciturno, pensativo, sempre preocupado).E mesmo suas frases famosas, principalmente aquela do “Quem gosta de pobreza é intelectual!” são ditas como se fossem frases da Bíblia.
Foi na verdade meu amigo Claudio que me chamou a atenção para um detalhe fundamental. Na história, Joãozinho é perseguido na Escola de Samba porque é ex-bailarino (não se fala na sexualidade dele diretamente, mas supõe-se que se é dançarino é gay! O que já é errado). Depois ele é vitima de uma perseguição não muito clara porque a figura que faz isso (Millhem Cortaz o vilão mais ativo do cinema brasileiro atual) também poderia ter posto fogo no barracão da escola (isso nunca fica muito claro). O difícil de acreditar é que Joãozinho tenha sido o primeiro gay a servir numa escola de samba, depois de décadas de desfiles, religiões que aceitam qualquer forma de sexualidade e assim por diante! Se numa escola não existe tolerância sexual, onde mais poderia existir?
É uma pena que o roteiro seja tão equivocado porque Matheus é o ator sensacional de sempre, mesmo que contido e amarrado, numa figura soturna e mesmo antipática. E o diretor Machline insiste em certas ideias como fazer a comparação do desfile de escola com Ópera como se isso fosse engrandecê-la! (várias vezes tem temas musicais de Ópera de fundo!).Cada coisa é uma coisa. E ficamos frustrados de ver pouco de samba nessa escola (ao final, certamente seria caro demais e impossível reproduzir ao menos parte do desfile que o consagrou. Mas cortar para imagens de transmissões de TV e assim mesmo tudo muito rápido, não resolve o problema).
Este rapaz chamado Trinta não tem vida própria, não sabe dançar (Matheus é filmado de muito longe e mal dublado por profissional) e fora alguns momentos de candomblé com a grande Lea Garcia, as duas outras possíveis grandes figuras da história viram meros coadjuvantes que ninguém quer ofender, o amigo mas rival Fernando Pamplona e o chefe da Escola (Ernani Moraes, muito bem). Duas mulheres fazem figuração, a bela Paola (como mulher santa de Pamplona) e a maior porta bandeira que no final das contas nem aparece dançando! Que pena que um tema desses tenha se perdido deste jeito.