Crítica sobre o filme "Mommy":

Rubens Ewald Filho
Mommy Por Rubens Ewald Filho
| Data: 24/04/2015

Tempo de corrigir uma falha, por estar viajando deixei escapar este premiado filme mais recente do jovem diretor Dolan, que provocou uma rara comoção no Festival de Cannes, onde este filme ganhou o Prêmio do Juri do Festival (competição), o César de melhor filme estrangeiro, e dentre dois prêmios canadenses levou 7 Jutras e mais um Especial, e 10 Canadian Screen  Awards.  Este foi o sexto filme longo do diretor, que nasceu em 1989 e estreou na direção em 2009 com o já interessante Eu Matei a Minha Mãe (geralmente também é ator do filmes que giram em torno de temas gays!). Mas os filmes seguintes Amores Imaginários (10) e Lawrence Anyways (12) continuaram a ser interessantes. Em 2013, fez o curta Indochine: College Boy e depois no mesmo ano Tom à La Ferme (primeiro não escrito por ele e o que menos circulou. Por outro lado já esteve como ator em 17 filmes).

A primeira vista também a badalação (e por órgãos importantes da imprensa) foram me deixando curioso. Seria outro engano? Tentei ver uma versão do filme que me emprestaram mas senti que havia algo errado, parece que foi uma edição especial que Dolan fez especialmente para enlouquecer os viciados em baixar filmes!

O fato é que o filme saiu agora em DVD pela Paramount. E fiquei arrasado no melhor sentido da palavra. O rapaz é muito talentoso, criativo e nessa atual mediocridade e incompetência que tenho visto nos filmes de arte, ele é excepcional (um absurdo que não tenha feito maior sucesso aqui!). Dentre as boas ideias esta o fato de ter um letreiro no começo bem difícil de ler, onde conta que a história se passa num futuro próximo quando o governo canadense criou uma lei em que as mães/familiares que tenham problemas com os filhos adolescentes rebeldes podem de acordo com certas burocracias, interná-los em hospitais, de onde sairão (dito) normais! Ou seja, lesados.

O maior impacto do filme é ter a ousadia de rodar todo o filme no formato antigo, do começo do cinema, que é praticamente uma fotografia de três por quatro (e não o widescreen que só começara a vigorar nos anos cinquenta em diante, certamente influenciado porque esse formato é o mais utilizado pelos pintores, da melhor enquadramento). E que lembra também a imagem de um celular. Depois dele, também o diretor polonês que fez Ida, também usou formato parecido. Mas é outro papo porque conta uma historia de freira e refugiada, toda plácida, toda praticamente sem cor. Aqui não, é como se deixassem os personagens prisioneiros do formato de sua tela. Reparem como parece que querem escapar dessa prisão.

Não é Dolan que faz o protagonista mas outro ator jovem, Antoine- Olivier Pilon, que já tinha estado em Indochine e Laurence. Ele faz Steve O´Connor um adolescente hiperativo que cria problemas para sua mãe, que está longe também de ser um exemplo. Mas o rapaz é realmente um exagero, repleto de auto piedade, de lamentações a sua vida infeliz e futuro medíocre. Embora não se consiga também deixar de se ter por ele, se não uma simpatia propriamente dita, uma estima, uma compreensão. Ele fala para pessoas que são incapazes de o entender, mergulhadas que estão nas suas próprias  infelicidades (no caso, a mãe e a melhor amiga dela, uma vizinha, as duas atrizes franco canadenses são excepcionais).

O filme é tão intenso (e também tenso) que sua resolução chegou como uma surpresa para mim, que embarquei totalmente no resultado e no choque. Que em retrospecto pode parecer óbvio mas que a habilidade do diretor faz se manter forte e atual e doente e arrebatadora.