Tenho reclamado muito dos filmes europeus que tem sido importados para o Brasil, quase todos medianos e francamente dispensáveis. Esta é uma feliz exceção, um longa alemão feito pela mesma dupla que realizou Barbara (2002), que chegou a ser indicado ao Oscar de filme estrangeiro, Christian Petzold e a versátil Nina Hoss (que também esteve no americano O Homem mais Procurado e em A Massai Branca).
A história poderia ser clichê mas é contada com delicadeza e mão firme. Uma judia que foi famosa cantora, Nelly Lenz, consegue sobreviver ao campo de concentração mas seu rosto está deformado por aparentes queimaduras. Uma amiga lésbica fiel e apaixonada tenta cuidar dela, levando-a para um médico especialista. Acontece que Nelly herdou uma fortuna e agora poderá se recuperar. O problema é que deseja ficar o mais parecida possível com o que era e reluta em se mudar para a Palestina (onde depois existiria Israel) na esperança de encontrar o ex-marido Johnny. Até o dia que o descobre como garçom de um cabaré bem alemão (e que lembra também o filme homônimo).
Quando este a vê, vem o plano diabólico. Fazer ela se passar pela falecida Nelly (ele acha) e assim ficariam com a fortuna dela. Isso e mais a surpresa da falta de caráter de Johnny. Todo o filme utiliza apenas um tema musical, por vezes muito discreto executado ao piano, as vezes também cantado, mas sempre eficiente. A canção é a bela e célebre Speak Low, que certamente não por coincidência foi composta pelo alemão e brechtiano Kurt Weill.
Fênix foi premiado em San Sebastian (Crítica), Festival do Estoril (Especial do Júri), German Film Awards (Coadjuvante Nina Kuzendorff, que faz a amiga), Hong Kong (Menção Especial), Seattle (Atriz). O público alvo vale a pena assistir.