Vencedor do Prêmio da Paralela Panorama do Festival de Berlim e premio do Público, filme de abertura em Gramado (Hors Concous), Prêmio do Juri River Run, Menção do Júri em Sundance para Regina e Camilla, este é por consenso geral o mais provável filme nacional indicado oficialmente ao Oscar e possivelmente também o melhor do ano. Anna Muylaert também autora do roteiro, estreou no longa do sucesso Durval Discos (02),que levou 7 Kikitos em Gramado, seguido pelo também interessantes É Proibido Fumar, retornando só agora ao longo num filme onde demonstra notável domínio da linguagem cinematográfica, numa história humana e sensível. E uma interpretação antológica de Regina Casé (quem viu Eu, Tu, Eles, 2000, sabe como ela é competente também em papéis dramáticos, não apenas em comédia que lhe sai tão fácil). Naturalmente faz uma variante de si mesma, é isso que todo bom ator é capaz de fazer, mas sem nunca cair em caricatura, ou exagero. Compõe sem mudo um retrato humano de uma mulher de meia idade de Val, que é empregada de confiança de uma casa de gente bem de vida: a dona de casa que trabalha com moda, o marido que quase não sai de casa (mas na verdade é o dono do dinheiro) e um filho adolescente Fabinho com problemas na escola (Joelsas, muito natural) mas que foi criado por Val que o trata com todos os mimos. E ocasional colegas de emprego, o que não é desenvolvido.
O que nos interessa é a vida de Val, que sofre porque deixou uma filha Jessica para criar no Nordeste e que agora esta adulta e com planos de fazer faculdade de arquitetura em São Paulo. Eventualmente essa jovem inquieta e liberta de convenções, ficará morando na casa da família, ate mesmo num quarto de hospedes mas com certas restrições como não usar a piscina ou se aproximar demais do rapazinho.
Com Regina e essa história, Anna poderia ter feito uma comédia rasgada mas preferiu uma narrativa sóbria, até mesmo um pouco europeia. Foi uma opção honrosa, que não tira o impacto do filme, que vai falar direto com o coração do espectador, que vai se identificar com a trama e apreciar a São Paulo que raramente é mostrada. Sem dúvida, o melhor filme nacional do ano, ao menos até agora.