Crítica sobre o filme "45 Anos":

Rubens Ewald Filho
45 Anos Por Rubens Ewald Filho
| Data: 06/11/2015

Este foi o vencedor do prêmio duplo no Festival de Berlim deste ano, melhor ator e melhor atriz. Respectivamente para dois ilustres veteranos, Courtenay (nascido em 1937), foi indicado duas vezes ao Oscar por Doutor Jivago, 65 e O Fiel Camareiro, 83. Estrelou também filmes importantes como O Mundo Fabuloso de Billy Liar, 63, The loneliness of the Long Distance Runner, de Tony Richardson, 62 e Pelo Rei e Pela Praia de Losey, 64. Rampling também inglesa nasceu em 46, começou no seu país natal com Georgy, a Feiticeira com Lynn Redgrave , 66, depois fora para a Itália onde estrelou Os Deuses Malditos, de Visconti, 69, Giordano Bruno, 73, e O Porteiro da Noite,74 , o proibido aqui Addio Fratello Crudele, 71, Foi casada durante anos com o musico Frances Jean Michael Jarre e por isso fez grande de sua carreira naquele país. Mas também por Hollywood com Woody Allen (Memórias) e Paul Newman (O Veredito).

Ambos são interpretes discretos, nada melodramáticos e encontraram um diretor ainda mais austero do que eles, o irlandês Haigh (que dirigiu o inteligente romance gay Weekend, 11, o documentário também gay Greek Pete, 09 e a série de TV da HBO Looking. Curiosamente este filme é endereçado ao público de terceira idade (também deu prêmio para Charlotte em Valladolid e em Ediburgh, ganhou melhor filme britânico e melhor atriz britânica). Charlotte está sendo apontada como possível finalista do Oscar deste ano nessa categoria.

Temo porém que o filme seja frio e nada sentimental, o que deve atrapalhar sua carreira. Vejam só: Georf/Courtenay tem na festa de 45 anos de seu casamento um longo discurso em que a câmera não se move nunca, está o tempo todo parada observando ele. Logo depois é a vez de fazer a mesma coisa com Kate/Charlotte e por fim acompanha o casal que vai dançar a canção de sua juventude, de quando se conheceram Smoke Gets in Your Eyes com os The Platters. Adivinha? A câmera não se move nem quando o salão fica cheio e terminará ainda nessa mesma tomada.

Outro detalhe interessante, mas que também deixa o frio o resultado: a história é contada na passagem dos dias mas se prestarem bem atenção, a cada mudança da folhinha, a paisagem esta diferente, como se mudassem as estações ! Não há trilha musical, nada , nenhuma orquestra. Há apenas o que chamam de música Incidental, Charlotte tocando piano, ouvindo rádio, cantarolando, música numa festa, ruído de rua. Mas nada que facilite o que público em particular feminino espera, a emoção, a lágrima. As filmagens foram numas cidades do interior do país, Norwich e Norfolk Broads.     

Nada a reclamar naturalmente do casal central, ambos mestres do detalhe e da discrição. Eles vivem há 45 anos juntos, se falam pouco mas tem uma vida boa no interior, num pequeno chalé, basicamente esperando a morte. Tudo corre pacatamente até o momento em que ele recebe uma carta em alemão que vem trazer inquietude para o casal, em especial para Kate, que terá dificuldade em enfrentar a situação. Não vou contar o que obviamente.