Sem dúvida o estado lastimável da Saúde pública em nosso país daria um filme formidável, que provavelmente não poderia ser feito por que não conseguiria financiamento para isso. E temos que nos contentar com esta comédia-dramática francesa (que alguém descreveu como Hipócrita! Claro que o certo é uma referencia ao famoso médico grego da época de Péricles, considerado por muitos o pai da Medicina. Por causa disso os médicos formados normalmente são obrigados a fazer o juramento de Hipócrates!).
O filme teve boa recepção na França, onde deu o César de melhor ator coadjuvante para Red Kateb, que faz o papel marcante de Abdel, foi indicado ainda como ator, Lacoste, atriz coadjuvante Marianne, roteiro original, montagem, diretor e filme. Na verdade, o elenco é pouco conhecido a não ser pelo veterano e nada competente Gamblin, que faz o pai do herói Benjamin (Lacoste), que é recrutado para fazer estágio num grande hospital parisiense (mas o pai pouca atenção lhe dá) e a figura mais forte que ele encontra é justamente Abdel, um médico argelino (o ator também é filho de argelino) que tem que fazer provas para poder exercitar a profissão na França. Começa com certo humor e na segunda parte é que finalmente se torna mais dramático e social. É segundo trabalho do diretor Lilt (que fez antes Les Yeux Bandés,07).
O problema de Benjamin é que não pode errar e aos poucos vai perdendo a confiança em si mesmo (mas não espere um novo Dr. House, embora o seriado apareça rapidamente numa TV. Talvez esteja mais próximo é daquelas comedias inglesas com Dirk Bogarde nos anos 50-60 fazendo médico!). De qualquer forma, a situação é sintomática, o rapaz esquece de fazer eletrocardiograma num paciente com dores abdominais e que no dia seguinte aparece morto! Embora mantenha uma narrativa bem realista, aos poucos vão surgindo os problemas, o choque do primeiro cadáver, as pequenas mentiras para não tirar as esperanças dos pacientes, o problema dos pacientes terminais, a falta de recursos no hospital, que no fim acaba sendo um negócio como qualquer outro. Aliás parece lógico que o filme seja autobiográfico já que o diretor é médico formado e que também exerceu a profissão.De qualquer forma erraram na escalação do protagonista Lacoste (que já esteve em Les Beaux Gosses, 09 e em Asterix e Obelix, a Serviço de sua Majestade, 12 e no recente Diário de uma Camareira). Mas não tem empatia nem presença, é um erro que não ajuda o filme.
Embora tenha sido exibido em Cannes, não é notável, e só pode interessar profissionais da profissão.