Quem conhece a carreira de Arnaud, sabe o que esperar. Este seu mais recente filme ganhou no último Festival de Cannes o prêmio da Quinzena dos Realizadores, a Placa de Prata em Chicago. Mas pouco se diferencia de tantos outros que geralmente tem sido exibidos no Brasil, com pouca repercussão. Em 1966, ele ficou conhecido pela narrativa confusa (mas isso tornava tudo muito pessoal, e repleto de mulheres, nesses dois casos não mudou muito aqui). Esse primeiro filme foi Como Eu Briguei por (Minha Vida Sexual), 96. Teve Reis e Rainha (04), Um Conto de Natal (08), sempre com profusão de personagens e muito palavrório, o esquisito e mal conhecido Terapia Intensiva (13)com Benito del Toro.
Trabalhando com um de seus atores preferidos, Almaric, ele conta aqui uma história confusa de um personagem igualmente complicado, briguento, chato, que atravessa anos e países até no terceiro ato ficar preso pelo governo francês porque tem outro homônimo que mora na Austrália que tem um passaporte homônimo e estaria retornando depois de uma longa estadia no Tadjikistan. Ou seja, é um chato de galocha, indigno de se entender. Chama-se Paul Dédalus e a maior parte do filme é interpretado por dois outros que o representam jovem e sempre chato. Durante o interrogatório, ele se recorda de três momentos chaves de sua vida : sua infância em Roubaix em companhia de pais difíceis, sua viagem a União Soviética onde ele chega a oferecer sua identidade a um russo e principalmente quando tem 19 anos e descobre o amor de sua vida com a bela e confusa Esther...
O importante para poder curtir o filme é entender que se trata de uma obra autobiografia e que Almaric está representando o mesmo personagem Dédalus que fez no primeiro filme de Arnaud, que no original se chamava Comment je me suis disputé (ma vie sexuelle), além de outras referências a personagens seus. Que só será curtido pelos fiéis admiradores. O que poderia ser uma grande qualidade também é um defeito, já que quase tem uma leitura que muitos não têm acesso.
A infância não dura muito tempo e logo se esquece. A viagem a Rússia lembra outro filme dele, La Sentinelle, o que sem dúvida o define como cinema de autor. Curtir ou não o resultado será uma decisão pessoal.