Este é o novo documentário do diretor que fez muito sucesso com a biografia de Vinicius de Moraes (05) e que promete ter igual repercussão com este. O Itaú da Frei Caneca já esta ocupando a sala maior e na sessão em que assisti ao final o filme foi saudado por calorosos salvas de palmas. Afinal se não chega a ser revelador é muito bem realizado, com esplêndida fotografia e direção de arte. Gostei especialmente de ouvir a leitura delicada de Marília Pêra dos textos de Chico. Os interpretes das canções de Chico em geral são pouco conhecidos (exceção de Ney Matogrosso e Monica Salmaso), mas talentosos. Embora o filme seja no fundo apenas uma longa entrevista em seu apartamento, praticamente com um único plano (sempre sentado na mesma cadeira e em close) se torna atraente e muito divertido porque ele tem incrível humor e fica tirando sarro de si próprio e da carreira em geral. Sem nunca se levar a sério. Embora tenha uma cena bonita, mas curta demais de Chico cantando e tocando com três dos netos (e apenas uma delas, encantadora morena se destaca). Na verdade, sente-se falta do depoimento de Marieta Severo, de fato a única esposa (embora parece que nunca de papel passado! Mas ela é uma grande figura e sua palavra e depoimento faz falta. Fora Miúcha também outros irmãos e até a ex-Ministra da Cultura deveriam dar o ar de sua graça! Dos parceiros só Ruy Guerra da depoimento ). Felizmente, porém, Chico se contém e desta vez não fala de Dilma ou de Cuba.
Apreciei o bom uso de material de arquivo (há, por exemplo, um raro momento de sua mãe subindo ao palco da Record) e muita coisa gravada na Itália, com a inesquecível Lea Massari, e até Josephine Baker, no palco com Chacrinha, cantando com Gil e Caetano (mas não a fala deles ou de Gal! Apenas Bethânia conta uma anedota!). Quem viu o trailer, porém já curtir alguns dos melhores momentos.
A questão é outra, eu faço parto de uma geração que cresceu junto com ele, que adorou “A Banda”, vibrou com “Roda Vida” e foi seguindo a carreira daquele garoto desajeitado num inesperado e despreparado ídolo político. Que de repente se viu vítima da perseguição da Ditadura e do jogo de perseguição da censura. Quem viveu tudo isso não consegue evitar a emoção que o filme provocará. Afinal também é a nossa vida. Embora não seja mais o garoto de antigamente e traga no rosto a marca dos 71 anos, não perdeu a jovialidade e a simpatia. Aproveitando o momento em que ele lançou o livro sobre seu irmão alemão, o filme conclui de maneira tocante, com Chico na Alemanha, em Berlim, procurando e encontrando imagens do seu verdadeiro e desconhecido irmão, inclusive um momento inesquecível em que o irmão aparece assoviando e cantando num filme musical da TV da Alemanha Oriental. Como sempre quando derramamos alguma lágrima ou rimos junto com ele. Não é por Chico que choramos, é pela gente mesmo. Pelo que passamos, vivemos, perdemos. E aplaudimos o artista talentoso e sobrevivente.