Reza a tradição de que critico de cinema, em particular os brasileiros, não apreciam filmes positivos, que contam histórias que servem de bom exemplo e que em geral são e precisam ser pela própria natureza dele, moralistas. Essa barreira é também compartilhada por grande parte dos jovens e estudantes, que são refratários a finais felizes e bons exemplos. Não sei nem se não fiquei um pouco contaminado por esse tipo de cinismo, que provavelmente irá prejudicar este bom filme (que ganhou o Prêmio do público na Mostra de São Paulo) e que é inspirado em fato real, a criação da Orquestra Sinfônica na periferia em Heliópolis, ajudado pelo instituto Baccareli. Tudo isso naquilo que é o melhor trabalho até agora do diretor Sergio Machado (que fez Cidade Baixa, Quincas Berro D´Água) num filme forte, muito bem realizado e que deve ter sido um esforço enorme para dar o tom certo. Toda a equipe de jovens passou um ano sendo treinada por Fátima Toledo e estão todos muito bem, num nível de cinema americano que tem tido projetos semelhantes (como o filme de Michelle Pfeiffer, Mentes Perigosas. Seria na verdade o nosso Ao Mestre com Carinho!).
Destaque especial também para o protagonista Lázaro Ramos (deixou de ser garotão e virou adulto, ficou um pouco parecido até com o grande Idris Elba). Ele iria fazer um coadjuvante mas brigou para ser o protagonista embora não tocasse violino. Mas certamente enganou muito bem. A história é sobre este músico que falha no texto da OSESP, a orquestra sinfônica Paulista e nervoso acaba brigando também com os colegas com que participa de um Quarteto. Acaba aceitando cuidar de uma orquestra de periferia, com jovens rebeldes (os próprios pais acham que tocar nesse tipo de banda não dá futuro para ninguém). E justamente o mais talentoso deles acaba sendo perseguido pela polícia, enquanto o professor fica na corda bamba tendo que conviver bem com os que mandam no lugar, os traficantes (a cena em que ele toca Danúbio Azul no aniversario de 15 anos da filha do Chefão é alem de tudo divertida).
Naturalmente Lázaro não toca o violino mas dubla muito bem. Na verdade, a música clássica se mistura bem com o rap/Funk e que tais. O fato pouco reconhecido é que é muito mais difícil realizar um filme como este bom caráter do que outra estória de violência na favela. Já perceberam que eu gostei muito do filme, que não temo em recomendar. E logo porque não deve ficar muito tempo em cartaz.