Crítica sobre o filme "Mia Madre":

Rubens Ewald Filho
Mia Madre Por Rubens Ewald Filho
| Data: 14/12/2015

É bom avisar que não se trata de uma comédia ou mesmo sátira como o diretor está acostumado a fazer. Mas um drama lento e pouco bem humorado que é também autobiográfico. Embora Moretti esteja no elenco como de costume, aqui seu papel é secundário, faz o irmão da protagonista que é uma diretora de cinema (feita pela já veterana estrela italiana Marguerita Buy) que está em plena filmagem (a cena inicial é bem interessante uma multidão em protesto avança contra os policias armados e alguns tentam invadir a fábrica. É quando se revela que tudo não passa de uma filmagem). Segundo ele o lado mais autobiográfico de todos é o sentimento que Margherita sente, de não ser competente para o trabalho, não conseguir se comunicar com os outros e pior, nem se interessar pelos outros, incluindo a filha adolescente. E é assim que ele se sente quando dirige um trabalho.

Moretti aproveitou o que sucedeu realmente com sua mãe, para a situação básica. Mas durante uma filmagem a diretora jamais teria tempo para ficar visitando a mãe, jantar com o ator convidado americano que fala mal italiano e se acha no dever de fazer piadinhas sem graça (o papel é de John Turturro, um dos poucos americanos que falam italiano!). O grande problema para mim é que se torna difícil para o espectador se identificar ou mesmo gostar da diretora, que esta sempre chorando, com cara de entediada. Ou seja, ela seria uma má diretora e o filme resultaria numa droga (não ficamos sabendo do que ela teria feito antes). Não é uma figura admirável mas uma chata, que acarinhada por todos não sabe corresponder.

Nanni tem o papel do irmão que é ainda mais ingrato, fornecendo informações ao espectador mas sofrendo do mesmo bloqueio de sensibilidade. A gente pensa nos antigos filmes italianos, em Rocco e Seus Irmãos, onde todos se expunham e gritavam e choravam se agarrando uns aos outros. Francamente prefiro isso do que este filme morno e ate aborrecido que tem medo de comover e resolver situações. De qualquer forma, Moretti parece ter feito paralelos com sua vida. Sua mãe Agata, morreu em 2010 quando ele terminava Habemus Papam. Era professora de línguas clássicas latim e grego. O carro que Margherita dirige é do próprio Moretti, os livros nas estantes são da família e Guilia, que faz a mãe, usa nos hospital as roupas da mãe Agata. Para ele o momento mais comovente é a cena em que a neta ouve a chamada do hospital entende o que houve mas prefere se esconder como cobertor.

Madre Mia ganhou em Cannes apenas um prêmio ecumênico. Levou o premio David de Donatello de atriz Margherita e coadjuvante Giulia (a mãe). E teve mais 8 indicações. Marguerita também foi melhor atriz dos críticos italianos.