Este é um caso estranho de uma super produção (feita quase que totalmente por atores e diretores desconhecidos) e que custou cerca de 110 milhões de dólares e até agora não rendeu mais de 27 milhões, no que se constituiu num imenso fracasso para o que vem a ser a refilmagem de um filme Cult que o estúdio achou que daria muitos frutos. Fui procurar o que escrevi a respeito do original Caçadores de Emoção (1991). Foi dirigido pela única mulher a ganhar um Oscar de diretora, Kathryn Bigelow. O elenco tem o já falecido Patrick Swayze, Keanu Reeves, Lori Petty, Gary Busey, John C. McGinley e os únicos que retornam aqui são James LeGros e o Bojesse Christopher, como diretor do FBI. Não é a toa que virou cult. Olha só que história: é sobre um grupo de ladrões de banco que na verdade são surfistas. E para complicar há neles infiltrado um jovem agente do FBI (Keanu na fase pré Matrix). E para aumentar a emoção há várias cenas com os mais variados esportes radicais (algumas de tirar o fôlego). Esse é daquele exemplar raro: um filme de verão no formato e no espírito.
A refilmagem começa com um erro grave, reúne um elenco desconhecido, começando pelo venezuelano Edgar Ramirez que ficou mais ou menos conhecido pelo telefilme Carlos, o Chacal (2000), o australiano Luke Bracey e Teresa Palmer (que estrelou Meu Namorado é um Zumbi e agora que deve estrear semana que vem, A Escolha). O diretor era um fotógrafo que fez carreira em filmes de ação como Velozes e Furiosos (o primeiro) e realizou antes o pouco visto O Invencível, 06, com Mark Wahlberg. Originalmente Gerard Butler ia fazer o protagonista. Levou quase um ano para ser rodado em locações exuberantes e difíceis em 10 países (em particular na famosa Angel Falls na Venezuela). Tudo fica valorizado pelo 3D ainda que por vezes se sinta claramente o uso de efeitos digitais. Mas é um milagre que ainda que com dublês profissionais, não tenha morrido alguém.
Enfim, o que era uma aventura bem humorada e com vaga mensagem política acabou se tornando um filme inflado e exagerado, mais um que divulga a filosofia do Bromance (é assim que eles chamam a amizade entre homens que embora não seja gay fica com cara de romance!). O primeiro erro é situar a ação agora, enquanto o outro se passava na era logo depois do Presidente Reagan. E eles estavam cercado de mulheres que jeito de supermodels. Não era para ser levado a sério, tinha senso de humor (que faz muita falta aqui) inclusive nos nomes que se repetem aqui Johnny Utah e Bodhi. Para não ressaltar o fato de que o elenco aqui é praticamente desconhecido, menos atraente e carismático. Originalmente eles eram surfistas e ladrões de banco, mas aqui ganharam uma outra dimensão meio Robin Hood, que vai se tornando cada vez menos verossímil.
O filme começa com Utah (o louro e nada carismático Bracey) que estão no alto de uma montanha no meio do deserto com um grande amigo e resolvem fazer uma corrida que culminará com um salto absurdo para um outro pico. O herói consegue fazer o feito, mas o amigo morre! Por alguma razão nada clara, isso o inspira a entrar para o FBI (orientado pelo melhor do elenco Delroy Lindo). E apresenta um teoria difícil de provar que existem ladrões que viajam pelo mundo. Isso além de absurdo é confuso e pretensioso quando ainda se acrescenta uma mítica figura chamada Ozaki 8, sobre uma série de esportes radicais em diversos lugares do mundo. Quando Utah vai surfar numa mega onda, é salvo pelo Bodhi (Ramirez, que tem cara de bandido Mafioso) e assim tão fácil ele já entra para a bendita quadrilha. Então vem snowboarding, voando de “wingsuit” e escalar montanhas pelo jeito para fortalecer a amizade. Para ser justo, o roteiro inclui ainda algumas citações do original mas nada ajuda a tornar a história convincente e que não passa de pretexto para incríveis cenas de ação de envergonhar a ESPN! Mas a amizade não chega a convencer assim como o interesse romântico com Samsara (Teresa Palmer).
Na versão de 91, eles eram surfistas aloirados com algum propósito, enquanto aqui o filme “overproduced”! Viaja pela França, Austrália, Suíça, Venezuela, Canadá e EUA.Desta vez quem rejeitou o filme não foi a critica, mas os próprios fãs.