Este filme é finalista para o Oscar para produção estrangeira (ou em língua estrangeira como seria mais correto), primeiro concorrente da Colômbia, e como sempre a Academia escolhe filmes bizarros e diferentes, rejeitando outros que poderiam ser mais acessíveis. De qualquer forma mostra que não apenas de traficantes vive o país que parece estar se recuperando. Realizado em preto e branco (o que é infelizmente um obstáculo para seu sucesso), o filme foi baseado nos diários dos cientistas Theodor Koch Grunberg e Richard Evan Schultes. Na verdade para o fã de cinema tem algumas referências óbvias como os filmes de Klaus Kinski e Werner Herzog (Fitzcarraldo), mas parece e muito, talvez demasiado, com o Apocalypse Now (ainda mais com a colônia de índios drogados que embora inspirado em fatos reais, também lembra demais o reduto de Marlon Brando naquele filme). E sem esquecer também toques de filme de selva e Tarzan que o diretor não conseguiu evitar (luta de sombras refletidas, o nativo olhando para o nada e mostra-se então sem outra consequência uma Paca se banhando no rio). Também não é mais convincente, nas imagens de cobras (ainda mais quando são comidas por uma onça ou coisa que o valha) e é melhor não prestar muita atenção nos horríveis figurantes que fazem os nativos drogados pelo líder que se diz Cristo (uma pena eles serem tão convincentes porque a cena podia ser bem mais poderosa, ainda mais com um sujeito que parece falar com sotaque brasileiro).
O Amazonas da Colômbia é bem menos conhecido e menos espetacular do que o nosso, mas nem por isso deixa de impressionar. Acho que o grande trunfo do filme é a dignidade com que representam os dois nativos que interpretam o protagonista chamado de Karamakate, jovem e velho (ambos são atores natos e certamente são a razão do filme se sustentar, apesar do diálogo pouco e em dialeto). A história é contada em dois tempos, o pesquisador do começo do século, creditado como Theo, famoso pesquisador da vida dos índios e que esta naquele momento muito doente, ajudado por um outro nativo que pede socorro ao karamakate, que depois de certa relutância parte com eles em busca de uma planta miraculosa (um pouco também como o filme de Sean Connery, O Curandeiro da Selva, 93). Se torna assim um filme de estrada, ou de rio,enquanto passam por algumas aventuras. Mas paralelamente se avança no tempo com o índio agora velho e sempre sozinho, que parece ter perdido a memória e agora ajuda outro pesquisador alemão muito mais determinado em saber o que deseja. Embora não seja muito convincente a resolução entre os dois, o filme mantém uma certa fluência e exotismo.
Merece estar na lista dos cinco? Claro que não, mais isso já uma conclusão banal. Ninguém nem questiona a provável vitória de O Filho de Saul, mesmo com certos relapsos.