Sou de uma geração que descobriu e sempre cultuou os Irmãos italianos Taviani Paolo (1931 ) e Vittório (1929), que apesar da idade continuam trabalhando e tiveram um sucesso critico muito grande com o filme anterior, o inesperado Cesar Deve Morrer (12) que ganhou o Urso de Prata em Berlim. Sou admirador da obra dessa incrível dupla que tem um método de trabalhar inacreditável (cada um roda um plano, alternando-se. E quando conversam ou dão entrevista se alternam também continuando as frases um do outro). Assistimos no Brasil praticamente o melhor de sua carreira que tem obras primas como A Noite de São Lourenço (82), intensamente emocional e autobiográfico, Pai Patrão (77), que os revelou e lhes deu a Palma de Ouro em Cannes, Kaos (84), inspirado na obra de Pirandello e Bom Dia Babilônia (87), homenagem a D. W. Griffith, um dos inventores da linguagem cinematográfica. Infelizmente vários filmes recentes ficaram inéditos aqui, alguns telefilmes. Este filme mais recente foi indicado ao premio David de Donatello (figurino, penteados, desenho de produção) e ganhou como melhor escolha de elenco (pelo episódio Rapaz Invisível).
Quando se fala em Boccaccio é uma grande tradição do cinema italiano aproveitar suas histórias em filmes em episódios, onde se acentuava seu humor e erotismo. Foram realizados muitas adaptação de qualidade variadas de sua obra com destaque para Boccacio 70 (1962) com episódios de Monicelli, Fellini, Visconti e De Sica (hoje ainda um clássico) e outro bem mais atrevido de Pasolini (71), com ousadias de nudez (era interpretado por gente do povo). Mas quando criança ainda assisti um filme americano sobre ele, que Deliciosas noites de Amor (Decameron Nights, 53) com Louis Jourdan, Joan Fontaine, Joan Collins (mas que era extremamente discreto). Em geral, justamente estas histórias picantes que foram a grande atração e charme do autor. E os Taviani ainda tem prestigio suficiente para reunir um elenco de astros do cinema italiano (como Riccardo Scarmacio, Kim Rossi Stuart e as estrelas locais Jasmine Trinca, Vittoria Puccini e Carolina Crescentini). Até porque o filme é relativamente casto e indicado para ser visto ate em igrejas! Ou Quase.
A história original foi criada ainda na época medieval e depois influenciou muitos autores, como Chaucer que faria The Canterbury Tales. O ponto de partida em 1348 é quando a Peste Negra ameaça Florença e dez jovens rapazes e moças decidem ter uma folga do pesadelo e se reúnem numa vila do interior onde durante dez dias irão contar histórias. Assim as primeiras cenas retratam a epidemia e sete mulheres de idade parecida e feitas por amadores. São elas que chamam três namorados para acompanhá-las. Serão cinco histórias de interesse variado. Os críticos em geral gostam da inicial e a do encerramento, ambas falando da fidelidade. Catalina (Puccini) está para morrer e o jovem marido (Parenti) não pode nem tocar nela. Mas um apaixonado secreto (Scamarcio) descobre que seu coração ainda tem vida. Outra história é sobre jovem viúva (Kasia Smutniak) cujo pai a apresenta a um escultor (Davide Rondino). Mas não espere erotismo ou muito humor por parte do veneráveis diretores. Ousam satirizar um pouco a Igreja Católica, criam intervalos entre a histórias nadando vestidas num lago (foi rodado em castelos, torres e ruínas medievais no Lazlo e na Toscana natal dos realizadores) com figurinos inspirados em Giotto. Sim, talvez seja um pouco antiquado. Mas para quem conhece os Taviani também pode ser um deleite.