Crítica sobre o filme "Much Loved":

Rubens Ewald Filho
Much Loved Por Rubens Ewald Filho
| Data: 08/11/2016

Indicada ao César de melhor atriz (Loubna Abidar) e premiado com o Lumière (melhor filme falado em Francês mas feito no exterior). Este é um drama ousado porque se atreve a mexer com assuntos tabus nos países mulçumanos apesar de justamente o Marrocos ser o mais aberto e acessível. Isso não impediu que tenha havido diversos problemas. Em novembro de 2015, a atriz central Loubna Abidar foi violentamente atacada na frente de um clube em Casablanca por causa de sua participação no filme. Ela colocou um vídeo online contando depois o ataque e a luta que teve com as autoridades. Depois chegou a ser ameaçada de morte pelo tweeter e processada por causa de uma cena de nudez. O diretor Nail Ayouch (nascido em Paris mas radicado no Marrocos) entrevista centenas de prostitutas enquanto preparava o roteiro. Apesar de tudo isso o filme foi proibido no Marrocos por ofender os valores morais das mulheres marroquinas e por flagrante violação da Imagem do Reino!

O filme porém foi muito bem recebido em Cannes, embora não seja a primeira vista tão ousado (há uma cena de sexo explicita meia no escuro), já que não contesta nem propõe nenhum valor ou mudança. O diretor é conhecido mais como produtor (As Ruas de Casablanca, de 2000, Nós ou Nada em Paris teriam passado aqui).

Basicamente registra um retrato de quatro prostitutas, umas mais bonitas, outras menos, mas dentro dos padrões gerais do lugar se comportando como se podia esperar. Uma tem namorado, há um senhor que ajuda a cuidar delas (não se define como gay, como seria provável). Se vestem para irem a festas e boates, as vezes são bem tratadas, as vezes nem um pouco. É uma vida miserável, mas na verdade não revela nada que seja tão diferente da profissão em qualquer lugar do mundo (será a França uma exceção?). Há apenas pequenos apontamentos, situações constrangedoras, ocasional violência. Quase nada de nudez. Curiosamente a fotografia foi realizada por uma mulher, Virginie Surdej.

Noha (Abidar) é a controladora do seu círculo de prostitutas: Soukaina, Randa e o motorista protetor Said (Abdellah Didane) passam uma noite numa mansão alugada por Saudi. É lá que um certo Ahmed se interessa por Soukaina que não consegue ter ereção e em vez disso lê poesia. Noha se veste mais formal quando visita a mãe que cuida do filho menor com o dinheiro que ela lhe entrega. Naturalmente fica claro a hipocrisia, a pressão dos policiais, mas na verdade é um estilo de vida numa forma de prisão que não é tão diferente e lamentável quanto no resto do mundo.