Sou grande admirador de Domingos de Oliveira, desde os tempos de Todas as Mulheres do Mundo e Edu, Coração de Ouro e fui amigo de Leila Diniz que ele transformou em estrela e a vida em mito. Seu livro autobiográfico recém lançado é certamente dos mais inteligentes e sensíveis e divertidos já escritos no Brasil. Embora trabalhando sempre com baixo orçamento, ele recriou o Rio de Janeiro que já não existe mais, principalmente de sua infância (também no filme anterior também premiado Infância, 14) e prossegue aqui, de forma mais brilhante e acessível, a narrar sua juventude bastante tresloucada, quando a família o sustentava num apartamento carioca que tinha justamente o endereço Barata Ribeiro 716. E para viver a si próprio foi feita a escolha acertada, com um ator ainda jovem e muito talentoso que é Caio Blat. Que procurou incorporar algumas características de Domingos, sem cair em caricatura. Enquanto conseguiam recriar uma época que já não mais existe, de muita bebida, alguma droga, muitas mulheres, e aonde a crise política de ameaça de golpe não conseguia ser assim tão importante ou mais do que os próprios amores.
O filme foi premiado no Festival de Gramado, como melhor filme, direção, trilha musical e atriz coadjuvante para Glauce Guima. Naturalmente os críticos jovens não sabendo o que fazer de um passado que desconhecem classificaram o filme de nostálgico. O que sem dúvida é verdade, mas isso enriquecido de tantas qualidades (entre elas, um humor e uma humanidade única na comédia brasileira). Domingos afirma não ser especialmente político nem naquela época agitada mas acaba fazendo assim um dos melhores retratos de época do cinema brasileiro. Embora tenha aparições de amigos veteranos (Pedro Cardoso, Paulo José), apresenta um elenco jovem e talentoso, num filme muito engraçado. Para os que viveram a época então é primoroso.