Crítica sobre o filme "Última Lição, A":

Rubens Ewald Filho
Última Lição, A Por Rubens Ewald Filho
| Data: 21/12/2016

É estranho como não tenha tido maior premiação e repercussão este drama francês (mas como certo tom de comédia também) de diretora estreante (era atriz de comédia e que por justiça ao menos deveria ter dado uma indicação ao César para a veterana Marthe Villalonga, que está excelente numa interpretação humana, mas sempre discreta). Na verdade, o filme é endereçado ao público feminino que está mais preparado para digerir uma historia difícil e que por enquanto é pouco abordada pelo cinema. Marthe, nascida em 1932, tem uma longa carreira (nasceu em Argel mas foi muito pouco premiada). Mas consegue criar um personagem discreto e ao mesmo tempo cheio de ternura. Muito complexo porque jamais cai na pieguice ou melodrama. Também é muito ajudada pela presença de Sandrine Bonnaire (que é das figuras mais adoráveis do cinema Frances, as vezes que a entrevistei fiquei encantado com sua naturalidade e encanto).

Embora o tema seja polemico tem a tendência de se tornar mais comum com o envelhecimento da população em todo o mundo, inclusive Brasil. Uma alternativa ainda pouco explorada é o desejo de morte assistida, ou seja, diante da falta de perspectiva no futuro, Marthe no caso Madeleine, que está com 92 anos, espanta a família quando informa que deseja se matar (com pílulas) porque não quer ir morrendo aos poucos. Isso provoca uma reação dramática no filho malcriado (bem francês por sinal), no neto surfista mas compreensivo e principalmente na filha Sandrine, que é a única a lhe dar força e compreensão.

Eu disse que era um tema difícil e complicado, porque deve mexer com crenças e sentimentos pessoais das espectadoras, mas nunca cai num meloso ou ridículo. Se presta a debates e polêmicas, mas também é uma experiência ousada e bastante bem sucedida.