Crítica sobre o filme "Eu, Daniel Blake":

Rubens Ewald Filho
Eu, Daniel Blake Por Rubens Ewald Filho
| Data: 02/03/2017

Foi mal em São Paulo, mas ainda deve estar circulando pelo Brasil afora este mais recente filme do venerável diretor inglês Ken Loach (que já estava com 79 anos – agora já chegou aos 80 anos) que se tornou assim o mais velho cineasta a ganhar a Palma mais importante do mundo. Mas foi injustamente mal recebido (já tinha ganhado outra há não muito tempo, o mediano Ventos da Liberdade, 06, e ele já fez outro trabalho desta vez um documentário In Conversation with Jeremy Corbyn).

Ken que é assumidamente um homem da esquerda à moda antiga fez tantos filmes (51) que fica difícil escolher os melhores, entre eles Kes (que foi o que revelou no Brasil, por Cakoff em 69) e um favorito meu que acho o melhor drama já feito sobre a guerra civil Espanhola (Terra e Liberdade). Mas poucos cineastas ainda vivos tem esse toque genial dele, que é trabalhar com amadores (aqui apenas dois centrais são atores profissionais) e sua habilidade em contar histórias sobre gente comum, em geral da classe operária, os pobres que lutam para sobreviver contra todo o sistema que lhes é negativo.

Este novo filme é dos menos calorosos, menos envolventes, porque não se da ao luxo de ter alívios românticos ou momentos divertidos. É a vida como ela é, não como deveria ser. O anti-herói se chama Blake e trabalha com madeira, agora aos 59 anos. Mas esta tentando se recuperar de um enfarte e fica amigo de uma mãe solteira que tem um casal de filhos (a menina é uma linda mulata). Quando procura as organizações sociais é sempre maltratado, rejeitado, passado para trás, uma vez passa quase 50 minutos esperando uma ligação telefônica no ar (infelizmente se feito no Brasil seria tudo ainda pior e mais trágico). O filme acaba novamente sem concessões. De certa maneira até frio, mas eu fiquei comovido e sensibilizado, assistindo a vida como ela é e não como nos mostra o cinema americano de rotina.

É um trabalho muito especial com os toques do diretor, que, por exemplo, não deixou a atriz Hayley ler o roteiro até o fim, antes da hora, e curiosamente o décimo terceiro filme dele que apresentou concorrente em Cannes. Uma pena que não tenha ainda encontrado o público que merece!