Crítica sobre o filme "Bingo - O Rei das Manhãs":

Rubens Ewald Filho
Bingo - O Rei das Manhãs Por Rubens Ewald Filho
| Data: 30/08/2017

Cheguei a convidar este filme para passar no Festival de Gramado ainda que como filme convidado. Não tive resposta. Há uma explicação curiosa para o filme possa encontrar seu público, como se anuncia cheia de ironia e humor ácido, além de ter censura até 14 anos! Ele se apresenta desde o trailer como o primeiro filme brasileiro em anos com teor malicioso, o que realmente não vinha acontecendo há muito tempo. Será uma experiência curiosa conferir se o filme fará sucesso de bilheteria, sobre um personagem que na verdade parece ser esquecido e pouco conhecido. Tenho uma razão especial para torcer pelo filme, fora a importância do diretor Daniel Resende, que sem dúvida é um dos melhores editores do Brasil (foi indicado ao Oscar por Cidade de Deus, fez A Árvore da Vida, premiado em Cannes com Brad Pitt e Jessica Chastain, Palma de Ouro para Terence Malick), o Robocop de Padilha (14), Tropa de Elite 2. Mas fez antes como diretor apenas alguns curtas e séries de TV.

A vida tem coisas curiosas e reviravoltas inesperadas. O personagem protagonista do filme é o ator e apresentador Arlindo Barreto, aqui chamado de Augusto (Vladimir), diz a divulgação “um artista que sonha em encontrar seu lugar sob os holofotes e que se depara com sua grande chance ao se tornar ‘Bingo’, um palhaço apresentador de um programa infantil que é sucesso absoluto no Brasil. Porém, uma cláusula no contrato não permite revelar quem é o homem por trás da maquiagem e Augusto, ou o novo ‘Rei das Manhãs’, se transforma no anônimo mais famoso do Brasil. Mesmo assim faz sucesso como apresentador e chega a liderança da audiência nas manhãs ao mesmo tempo em que mergulha em uma vida de excessos, que o afasta de seu filho, a única criança que o conhece de verdade. Tudo isso no SBT dos anos 80, numa variante do Bozo”.

Eu conheci Arlindo (então Tadeu) muito antes disso quando eu fui para Globo depois de Éramos Seis, escrever a telenovela Gina, inspirada na mesma autora Sra. Leandro Dupré. Quando cheguei ele já estava escalado para um papel porque antes tinha se saído bem num personagem nordestino em Maria, Maria (fui checar e o IMDB traz o nosso nome). Assim ele passou a fazer Fernandinho filho da heroína na novela (o incidente que mais me lembro foi numa gravação na Barra, onde teria que ser piloto de carro, mas foi se exibir dirigindo sozinho e acabou batendo num acidente, sem gravidade porém). Nessa altura já éramos amigos e fiquei sabendo de algo que se tem escondido na Imprensa, mas também está no IMDB, ele era filho de uma figura muito famosa na televisão, baiana como ele, Marcia de Windsor, que vinha do teatro revista e dava sempre a nota máxima e positiva quando era jurada de televisão. Tive muitas conversas por telefone com a Marcia, uma lady, figura encantadora e cheia de histórias, que infelizmente faleceu pouco tempo depois na gravação de uma novela na Bandeirantes (1933-82). Cheguei a ir ao velório badalado e dei um abraço em Arlindo.

Gina porém foi um sucesso de audiência, transformou Christiane Torloni em estrela mas eu preferi voltar para a Tupi onde iria fazer a novela Drácula. Fiquei sabendo que ele se casou com sua companheira de elenco no filme As Borboletas Também Amam (79) por pressão da família da bela Angelina Muniz (anos depois a escolhi para estar no elenco do novo Éramos Seis no SBT, sempre bela e eficiente).

Arlindo porém logo encontrou o seu caminho mais famoso com o apoio de outro meu amigo David Cardoso, foi buscar trabalho na Boca do Lixo, onde fez 15 porno-chanchadas (explicando bem, não era sexo explícito, apenas comedia ou policial, não pensem mal). E veio depois a história que conta o filme. Também nos vimos na entrada do SBT, cordiais, mas a esta altura todo mascarado de palhaço e o resto você vai ter que ver no filme.

Já sabendo que nem tudo que é mostrado é cem por cento a verdade. Mas é cinema, é mais comédia, é também uma lição de vida. Espero que ele esteja agora feliz com filhos e família. Resende é muito talentoso, Brichta idem. De certa maneira, realmente vale confirmar: a vida é realmente um circo.