Crítica sobre o filme "Detroit em Rebelião":

Rubens Ewald Filho
Detroit em Rebelião Por Rubens Ewald Filho
| Data: 10/10/2017

Os mais ingênuos como nós que ainda acreditamos em prêmios Oscar como justiça absoluta esperavam melhor resultado deste novo trabalho da diretora Kathryn Bigelow, que é a única mulher a ganhar o prêmio (ninguém esqueça que ela foi influenciada muito pelo ex marido James Cameron!). O Oscar foi por Guerra ao Terror (The Hurter Locker, 08) um superestimado e confuso drama de guerra no Iraque, que foi seguido por outro ainda menos eficiente, outro drama do mesmo tema, A Hora Mais Escura (Zero Dark Thirty, 12), mas que mesmo assim teve quatro indicações ao Oscar inclusive melhor filme e só levou edição de som. Mas era um equívoco. Que ela repete novamente neste filme que foi tremendo fracasso de bilheteria nos EUA. Seus melhores trabalhos são anteriores, como o filme de vampiro Quando Chega a Escuridão (87), o policial Jogo Perverso (89) com Jamie Lee Curtis, a aventura cult e clássica chamado Caçadores de Emoções (Point Break, 91 com Keanu Reeves) e ainda o curioso Estranhos Prazeres (Strange Days, 95) com Ralph Fiennes. Ou seja, tem talento e o aproveita enquanto o marido ajudava, mas se perdeu quando caiu na cilada do sucesso.

Este filme baseado em fatos reais nunca chega a envolver ou emocionar, apesar de ser uma história grave e importante. Em 1967, nas ruas de Detroit, estouram ataques da polícia que invadiram boates e night clubs sem explicação ou justificativa porque um grupo deles resolveram atacar porque ouviram boatos de violência, de que ouviram falar. E não queriam justiça, mas atirar e matar como sempre saindo ilesos e inocentados. Esse ataque resultou num dos maiores conflitos por raça na história do EUA. Tudo é centrado em volta de um motel chamado Algiers, em 25 de julho de 67 na rua 12th. Envolveu a morte de três negros, o espancamento de nove outros e duas mulheres. No entanto o filme não tem o impacto e o choque que o assunto merecia.

Acho que a culpa é mesmo da diretora que tem a uma técnica que acha fundamental e no fundo é um erro. Ela utiliza, desde Guerra ao Terror, rodando com três ou quatro câmeras ao mesmo tempo, fazendo com que elas mantenham os atores em constante movimento. Também prefere iluminar todo o set de filmagem para deixar os atores a vontade. Ela não faz marcação de planos ou tomadas, planejando closes ou planos abertos, ela filma tudo o que acontece duas a três vezes. E pronto, entenda quem quiser, emocione-se quem for capaz.

O filme foi rodado em Hamtranck, Michigan, perto de Detroit, mas a base foi em Brockton, Massacchusetts e Dorchester. O fato, porém, é que não faz diferença dada a dificuldade de diferenciar os atores, os conflitos. Enfim é muito simples, um tema importante mal narrado e muito mal divulgado (custou 34 milhões de dólares e não passou de 16 milhões de bilheteria). No Brasil, estava programado para 7 de setembro, mas foi adiado (até por causa do preconceito contra o filme sobre negros que ainda impera no Brasil).