Crítica sobre o filme "Pelé - O Nascimento de uma Lenda":

Rubens Ewald Filho
Pelé - O Nascimento de uma Lenda Por Rubens Ewald Filho
| Data: 23/10/2017

Houve um atraso no lançamento deste filme internacional (Pelé é coprodutor e o nome mais famoso é Brian Gazer, que ganhou Oscar por Uma Mente Brilhante) enquanto se esperava a recuperação da saúde de Pelé, em mais um filme biográfico sobre sua carreira. Desta vez, foi planejado para coincidir com a Copa do Mundo de 14, mas atrasaram e não deu certo. Na verdade, foram muitos os filmes de Pelé (o IMDB credita 9 filmes, mas já esquece assim o primeiro não com ele, mas sobre ele que foi O Rei Pelé, feito com Lima Duarte e com cenas em Santos, dirigido pelo argentino, Carlos Hugo Christensen, de 1962, com Laura Cardoso e Eduardo Abbas. Aliás, muito bom). Vieram também filmes de ficção e aventura.

Na verdade, vou aproveitar a chance de falar sobre Pelé. Já vi este filme que me pareceu bem realizado, com os problemas de sempre, que é o óbvio, o brasileiro fica esperando um filme brasileiro com cara de nós, jeito de verdade (e não um folclórico duvidoso) e um elenco internacional (Santoro mal aparece, os nacionais de fato são poucos). Ou seja, não vão gostar. Mas o fato é que podia ser ainda bem pior.

Eu simpatizo como filme porque me traz lembranças de Pelé. Como imagino que saibam eu sou de Santos e tive cadeira especial no Estádio do time desde criança, quando meu pai me conduziu, ainda moleque, de tudo para a peregrinação (com frequência no interior ou no Pacaembu) para acompanhar o Santos F.C. Achava meio esquisito, mas hoje eu sou grato porque tive a honra e o prazer de ver o time do Santos no melhor de sua criação. Nunca houve outro time igual em lugar nenhum do mundo, nem vai ter esse milagre duas vezes. Só quando fui crescendo e amadurecendo foi que percebi que foi um presente dos deuses ter a chance de ver o Santos em seu crescimento e apogeu e como parte disso o surgimento de Pelé. Tudo que eu disser não será novidade, mas para mim, louco por cinema, era incrível descobrir um time esportivo da minha cidade formado por gênios e atletas notáveis. Meu maior presente aconteceu quando o amigo Anibal Massaini me convidou para ver uma montagem ainda não final do documentário sobre Pelé, junto com o Pelé. Nunca tive certeza, mas parece que Pelé que já me conhecia de vista (afinal ele era de Santos e leu desde moleque as minhas críticas no jornal A Tribuna). Assim tive o prazer de ver o documentário ainda não terminado, mas o privilégio de poder dar palpites e discordar de certas coisas. Infelizmente não me meti quase nada. Havia participado do jantar leve com Pelé e surpreendido como todo mundo em vê-lo chamar Pelé na terceira pessoa (ele é o Edison), mas o que me tocou demais foi ver diante de mim toda minha infância. Os gols, as pancadarias injustas no Rei, os pulos que deu para escapar, os chutes com que devolvia os truques, os juízes quase sempre ladrões, os times rivais fazendo sujeira para nos derrotar. De repente entendia agora porque o Santos era o melhor do mundo, o mais caçado, o mais injustiçado, e Pelé o maior de todos, sempre prezava e se dividia com os colegas, ao menos o melhor time de futebol que já assisti. Sinceramente eu acho que eu não seria a mesma coisa se não tivesse tido essas experiências, de ter entendido o que era o esporte perfeito, os atletas geniais, as lições de vida, de time, de grupo, a sua maneira e a meu ver de algo quase tão bom quanto o cinema.