Crítica sobre o filme "Estado das Coisas, O":

Rubens Ewald Filho
Estado das Coisas, O Por Rubens Ewald Filho
| Data: 03/11/2017

Mike White é um comediante ruivo e original, que é ator, diretor e roteirista. Depois de certo sucesso (com a comédia Amor pra Cachorro, 07), acabou acertando como roteiristas dos projetos mais variados (como Emoji o Filme, Escola de Rock, Nacho Libre, Correndo Atrás do Diploma, Chuck & Buck). Este filme é uma nova tentativa do comediante Ben Stiller (aos 51 anos) mudar um pouco o gênero, chocado com os últimos fracassos (como o catastrófico Zoolander 2, Don´t Think Twice, que nem passou aqui, Uma Noite no Museu 3, Enquanto Somos Jovens e o fracassado mas inteligente A Vida Secreta de Walter Mitty, 13. Começou a procurar uma certa sobriedade (menos caretas e menos chanchadas) e funcionou muito bem no projeto da Netflix, Os Meyerowitz, com Dustin Hoffman.

Estava na hora mesma de ficar mais maduro e profundo no seu humor. Como aqui neste projeto da Amazon onde faz Brad Sloan, que deixa a esposa feliz Melanie (Fischer) em San Francisco para acompanhar seu filme talentoso musicalmente Tony (Abrams) numa tour de faculdades da região de Boston para escolher seu futuro. O pai não está nada certo porque fez uma carreira inferior e infeliz, contrário ao que esperava. Quem ressurge é um velho Nick (White) na capa de revista que vai ser cheia de surpresas. É verdade que muita gente irá reclamar que o filme é quase todo narrado no chamado voice-over (narração off), mas toda a imprensa americana foi unanime em saudar Stiller num de seus melhores momentos. Numa comédia dramática que é bem melhor do que você poderia imaginar. O curioso é que ele interpreta o chato, que faz tudo errado, quer aparecer e conseguir lugar melhor no avião (mas não tem dinheiro ou cartões para isso) e só deixa o filho envergonhado e desajeitado. Com certeza, você já viu coisa semelhante e até viveu momentos semelhantes (quando você não quer que os pais digam coisas embaraçosas, já que eles ganham menos do que os antigos colegas quase todos hoje famosos e muito ricos e importantes).

A situação me parece humana e sensível, como os americanos chamam de crise de meia idade, quando sentem aproximar a velhice e a ausência de oportunidades profissionais, e acabam fazendo papel ridículo (é preciso lembrar que o filme é produzido pela Amazon, rival da Netflix, e portanto sua bilheteria não é registrada para o público). O filme tem um clímax quando o herói vai jantar com um ex-colega de classe, agora famoso na televisão (e o melhor momento recente do britânico Michael Sheen) e tudo termina numa discussão civilizada. Não há muitos filmes sobre o tema procurando discutir o tempo perdido... Este é desse mini gênero dos mais interessantes.

PS- Ainda assim há probleminhas a perdoar, a narrativa exagerada e interminável, o menino que faz o filho que é espetacularmente inexpressivo e o final também que se prolonga demais.