Crítica sobre o filme "Maria - Não Esqueça Que Eu Venho dos Trópicos":

Rubens Ewald Filho
Maria - Não Esqueça Que Eu Venho dos Trópicos Por Rubens Ewald Filho
| Data: 16/11/2017

É uma agradável surpresa este documentário realizado por um amigo santista de notável carreira (Olho Mágico do Amor, Onda Nova, Estrela Nua) que eu perdi meio de vista quando se dedicou a documentários, comerciais e séries de TV. Mas lhes garanto que fiquei muito feliz em descobrir esta história real, elegante e notável, que relata um fato que eu desconhecia, em parte por não ser muito ligado as artes plásticas. Desde a primeira imagem, preto e branco, logicamente por acontecer no seu auge nos anos 40, surge a figura elegante, bonita e altaneira da biografada, que é uma daquelas pessoas raras que a gente gostaria de ter conhecido pessoalmente. A proposta é resgatar a vida da artista internacionalmente respeitada (também conhecida como esposa do diplomata Carlos Martins, embaixador do Brasil em vários países, inclusive os Estados Unidos, durante a 2ª Guerra Mundial) e de forma bastante sua profunda ligação amorosa com o famoso artista francês Marcel Duchamp (1887-68), que também faz parte da História do cinema de vanguarda, dirigindo Anémic Cinema, 26, uma ponta em Entreato (de René Clair) e dois filmes a mais. Além da colaboração mútua, ele a teve como musa e modelo em obras como “Prière de Toucher” (“Toque Por Favor”), capa do catálogo da exposição “Le Surrealisme en 1947”. A peça é um seio (o de Maria) e faz paródia dos avisos então espalhados pelos museus. O documentário aborda as cartas de Duchamp para Maria e sua participação no “Étant Donnés...”, a última obra do francês.

Talvez o mais importante seja realmente retratar a qualidade e quantidade da obra de Maria, que entre outras coisas ajudou muito na Bienal de São Paulo, sem esconder o depoimento da filha dela (quando houve a separação, no filme muito discreta até demais, há uma excessiva discrição justamente porque Maria era uma rebelde, uma criativa e no divórcio suas herdeiras foram passadas para a guarda do pai brasileiro). Assim observamos mais a artista através de alguns depoimentos feito por atores (eficientes) e também pela sempre encantadora Malu Mader, mas no caso a obra é mais impressionante do que outra coisa. Com menções e elogios também para Carmen Miranda (que ficou devendo favor ao marido de Maria). Várias vezes afirmada por especialistas, realmente a obra, suas esculturas, na sua maioria, são elegantes, eróticas, nativas, tocando na floresta amazônica, extremamente feminina (numa época onde isso era muito raro) e sempre apaixonantes. Dá realmente vontade de conhecer Maria melhor assim como seu exótico e envolvente trabalho. Que mais se pode pedir a um filme desses do que reclamar: quero mais, quem sabe um filme dramático com atores!