Crítica sobre o filme "The Post: A Guerra Secreta":

Rubens Ewald Filho
The Post: A Guerra Secreta Por Rubens Ewald Filho
| Data: 24/01/2018

Este é o filme que Steven Spielberg fez as pressas, que foi indicado a 6 Globos de Ouro e não ganhou nada. É provavelmente o pior trabalho dele, o mais medíocre, sem qualquer toque pessoal, lamentável sinal de que pressa é inimiga da qualidade. Nós todos que crescemos com ele, só temos como lamentar o equívoco que se estende desde a trilha musical pomposa do mestre John Williams, a um elenco irregular principalmente na figura de Tom Hanks (outro velho amigo e parceiro de Spielberg) que não denota qualquer carisma, parece constrangido de fazer um personagem em que não acredita. Isso para não falar num roteiro cheio de frases feitas (há discursos para a esposa - e outros - justificarem as situações, todos igualmente constrangedores). Há muito há reclamar, mas o pior mesmo é a má qualidade, o mau cinema que não precisava ter sido feito desta maneira.

Falava-se que o filme é sobre um fato real que sucedeu durante o Governo de Nixon (pouco antes dele se danar inventando o assalto a Watergate, que eventualmente o iria derrubar!). Mas não estou revelando muito porque o filme além de ser confuso é quase impossível de se entender, principalmente o povo brasileiro que certamente nunca ouviu falar direito de uma crise local, basicamente jornalística. Ou seja, o pobre espectador assiste inicialmente a uma abertura sobre a Guerra do Vietnã (nunca tão mal fotografado, na escuridão, inclusive sem qualquer impacto). Por mais que o nosso espectador esteja informado desse caso, terá dificuldade em identificar personagens porque nenhum deles é famoso ou celebrado por aqui. Demorei a perceber que o personagem feito por Tom Hanks, é o mesmo Ben Bradlee que teria outro caso célebre, que foi justamente o mesmo personagem interpretado por Jason Robards que até levou um Oscar por causa de outro filme sobre jornalismo que virou um clássico, justamente sobre Watergate, que foi Todos os Homens do Presidente, 76, do diretor Alan J. Pakula, e visivelmente superior a este (nunca chega a ser verossímil, apesar de fato real). Mas o que espectador local tentará gostar é a melhor coisa do filme, mais uma vez Mery Streep, que ainda consegue dar dignidade, sem cair em exageros. Ela faz justamente Kay Graham, que é a viúva que herdou o jornal local The Post de Washington (isso é importante, porque o marido se matou, não se explica como e porquê, mas o jornal não tem repercussão nacional. Só depois deste caso é que se tornará importante e graças a coragem e ousadia dela. Apesar da pressão de muitos, até porque no passado ela foi amiga intima dos presidentes americanos, inclusive Kennedy!

Disposto a entender esta confusão na casa dos outros? Duvido muito. Vou reproduzir para ajudá-los um resumo fornecido pelo IMDB: Daniel Ellsberg, um analista americano da ação dos militares americanos na Guerra do Vietnã, percebe a futilidade da ação do governo e a incompetência deles na luta no Vietnã, mais um jogo político onde se deixava matar soldados norte-americanos. Assim Daniel resolveu copiar documentos secretos que viriam a se chamar os Pentagon Papers (Papeis do Pentágono). Kay, a dona do jornal Washington Post está assumindo a direção do jornal quando o jornal mais famoso dos EUA, o New York Times publica parte desses papéis e por causa disso são perseguidos pelo governo que os acusa e faz ameaças. Por uma série de circunstancias, um dos jornalistas do Post, vivido pelo ótimo Bob Odenkirk (o Saoul) consegue acesso ao colega e assim obtém as muitas páginas que ainda faltavam (basicamente revelando como todos os presidentes americanos que se sucederam foram canalhas para fingirem que estão ganhando a guerra, mesmo que isso significasse sacrificar soldados norte-americanos). Esses papeis então publicados pelo Post são altamente polêmicos, mas reais e cabe a Kay arriscar publicá-los, correndo o risco de falir seu jornal. Até porque tudo é levado a Corte Suprema de Justiça dos Estados Unidos que terá que avaliar esse caso de liberdade de imprensa. A sequência é bem de passagem e assim perde-se o “punch”, o clímax que deveríamos ver e ter mais claramente! Deve ser coisa de Spielberg que sempre foge da reta...

Enfim, pode ter sido um grande momento da democracia norte-americana, mas ao contrário do que eu tinha pensado nada ou quase nada tem a ver com o atual presidente americano Trump (que o futuro garante ainda vai aparecer em muitos filmes a seu respeito!). É apenas uma narrativa convencional, sobre um assunto distante de nós, já que afinal de contas o nosso governo brasileiro se possível fosse, certamente daria origem a situações e denúncias muito mais saborosas do que a deste filme.