Crítica sobre o filme "Trama Fantasma":

Rubens Ewald Filho
Trama Fantasma Por Rubens Ewald Filho
| Data: 19/02/2018

Foi indicado a 6 Oscar (mas esquecido de alguns prêmios porque terminou a finalização com atraso): ator Daniel Day Lewis (no que ele anuncia como se fosse sua despedida a carreira de ator. Ele já tem três Oscar, o que é um Recorde!), coadjuvante (Lesley Manville, veterana atriz que faz a mãe dele e trabalha sempre com Mike Leigh), trilha musical, figurino, direção e melhor filme do ano! Indicado a 2 Globos de Ouro (ator e trilha), para 4 Baftas. O filme é dedicado ao mentor e amigo do diretor, o cineasta Jonathan Demme!

O diretor /autor Paul Thomas Anderson teve durante muito tempo uma reputação de Cult por causa de seus trabalhos em Boogie Nights, 97, Magnólia, 99, Sangue Negro, 07, com o mesmo Daniel Lewis. Mas começou a tropeçar com o incompreensível e pretensioso O Mestre, 12, e o ainda pior Vicio Inerente (14). Felizmente acerta mais com este melodrama romântico, em que também é autor e diretor de fotografia (o que não sabia fazer chamava a ajudar dos câmeras men!). Sem dúvida, uma história diferente ao contar a história (fictícia) de um costureiro famoso e rico, que vive com a discreta mãe e as empregadas (as costureiras do filme, são todas profissionais em geral aposentadas. Como aliás já se viu em documentários sobre o tema!). Ele é chamado de Reynolds Woodcock (este sobrenome provoca uma brincadeira de gosto duvidoso que não vamos traduzir!). Como sempre Daniel fez o que é de seu costume, ficou o tempo todo como o personagem exigindo que os colegas o tratassem sempre como o protagonista e não o ator enquanto também pesquisava sobre figurinos e tecidos das décadas de 1940 e 50! Chegou a fazer estágio nos museus britânicos de Victoria e Albert em Londres, e treinava com a mulher Rebecca Miller experimentando um vestido do lendário Balenciaga. Que na verdade teria sido o inspirador da história, o espanhol Cristobal Balenciaga, 1895-1972, que teve filiais em Londres e Paris e conduzia sua vida como se fosse uma promessa religiosa e era considerado o maior figurinista do século passado! Fizeram documentários com ele que realizou figurinos para filmes como Pecado de Amor com Sara Montiel, O Testamento de Orfeu de Cocteau.

Segundo Thomas ele teve a ideia quando ficou doente de cama e a esposa Maya Rudolph ficou cuidando dele. Sua parceira no filme é para nós uma desconhecida chamada Vicki Kneps (nasceu em Luxemburgo, lembra um pouco Uma Thurman e no filme a pedido do ator sempre teve que chama-lo de Reynolds!). Vicki esteve em alguns filmes grandes como Hanna, Amor e Revolução, o recente Jovem Karl Marx, com cerca de 40 créditos). Tem uma aparência curiosa, alta, magra, tem aparência no filme de alguém simplória e de origem alemã. Mas na verdade a grande interpretação é de Daniel, que não acredito irá ter um quarto Oscar embora de intensidade a seu trabalho.

Na verdade, toda a primeira metade do filme é um primor de elegância e requinte de imagem, de espantar os olhos e os sentidos. Paul Thomas de repente vira um diretor de imagens de grande delicadeza e momentos de discretos conflitos. O costureiro (sem clichês nada tem de homossexual, é uma figura difícil, mas extremamente sério e absorvido por sua obra) muda de vida quando vai para uma casa no litoral, onde num restaurante banal, se interessa por uma jovem garçonete (desastrada e nada elegante), mas por quem ele se interessa. A mãe ao contrário do que se podia imaginar pouco faz a respeito, apenas observa tudo. A heroína então chamada de Alma, se torna modelo favorita dele, mas aos poucos se tornam amantes, sempre com distanciamento.

O interesse continua até a última metade do filme quando há uma reviravolta e fica-se esperando algum retorno, alguma crise mais forte, ou momentos de briga ou maior conflito. Que nada! O filme vai terminando murcho e sem a grandeza que nos fazia esperar, ao ponto de desapontar. Ainda assim ajuda muito a absorvente e delicada trilha musical de Jonny Greenwood britânico do Radiohead, em seu quarto trabalho junto com o diretor.

Essa conclusão opaca acaba evitando o filme de maiores lances e me parece maiores prêmios.