Não conheço direito a obra do diretor e escritor Carlos Soh (que fez Por trás do Céu, 16, Minutos Atrás, 13 e Teus Olhos Meus, 11). O único que conheci foi “Minutos” que era original mas também confuso. Mas consegue ter uma experiência interessante e atrevida com esta história forte e violenta. Que mantém a tensão o tempo todo, ao narrar a tragédia cotidiana de uma família pobre, Batista (Ricca, careca e muito bem) que tem um emprego pobre num prédio carioca e três filhos. Casado com Maria (Adriana Esteves, que poderia se limitar a ser estrela de novelas de TV, atreve-se em se deixar enfear e até desfigurar-se. Palmas para ela!). Dos filhos o mais complexo é uma garota muito jovem, autista, que mora na casa sem futuro enquanto o pai Batista é alcoólatra e vai para uma reunião dos alcoólatras anônimos para tentar se recuperar e mudar de vida. A filha mais velha (Bianca) tem um namorado negro e de trabalho suspeito, enquanto o outro filho (Nercessian, sobrinho de Estefan) é perdido e incompetente, jogado na vida. Há também amores proibidos surpreendentes e carnais envolvendo outros personagens (prefiro não revelar, mas são cenas não muito explícitas, mas que mesmo assim são fortes e surpreendentes).
Na verdade, o filme não ousa a ser explícito e tem duas partes bem diferenciadas e cada vez mais dramáticas, sendo que na metade final mergulha num universo mais denso e surpreendente num mundo Nelson Rodrigues (mas que poderia ter ido mais fundo até porque o sujeito que dá carona não tem muito lógica de comportamento). De qualquer forma, não tem medo de espantar e desnudar o que seria uma simplória família de gente pobre e infeliz. Ou nem tanto. Mas não me atrevi a sair da sala ou me distrair. Quer elogio maior...?