Crítica sobre o filme "Caça às Bruxas no Cinnema: As Virgens de Salem, Inquisição, O Caçador de Bruxas, O Martelo das Bruxas":

Rubens Ewald Filho
Caça às Bruxas no Cinnema: As Virgens de Salem, Inquisição, O Caçador de Bruxas, O Martelo das Bruxas Por Rubens Ewald Filho
| Data: 16/11/2018

AS VIRGENS DE SALÉM

Essa versão prolongada foi feita pelo diretor e ator Rouleau (1904-81) embora seja hoje uma figura esquecida e apenas conhecido como diretor teatral que depois fez feito mais telefilmes do que outra coisa. É belga de Bruxelas, e fez muito cinema (49 créditos como ator). Mas houve um caso especial para isso. Esta foi a primeira versão da célebre peça teatral mais tarde refeita, mas o filme foi rodado na Berlim do Leste (ou seja, comunista), mas falada em francês. Porque os estúdios americanos estavam com medo de rodar um filme com um autor perseguido pela lista negra do MacCarthismo e que implicitamente critica a ação de Joseph McCarthy, a chamada caçada aos comunistas. A participação de Sartre como tradutor foi então ainda mais forte! A primeira montagem do texto havia sido em 1953, e foi apresentada por 197 performances no Teatro Martin Beck, sendo que ganharia o Tony Award de melhor peça. O filme porém passou no mundo todo, inclusive Brasil, mas nao foi montado durante 60 anos, porque reza a lenda, ele estaria se vingando do fato que Montand foi amante de Marilyn Monroe. A Atriz Mylène Demongeot chegou a implorar por varias vezes para Miller liberar o texto, mas este sempre recusou. Só foi feita quando a companhia francesa Patéh recuperou o filme em 2016, 12 anos depois da morte de Arthur Miller. Mas houve algo ainda mais curioso que foi a versão Americana das Bruxas, feita em 1996, nome The Crucible, 2h4 min de projeção. Direção do inglês Nicholas Hytner e o roteiro de Miller, que não por coincidência, é o genro do autor, o ator Daniel Day-Lewis (que é casado até hoje com a filha do escritor, também diretora de filmes). O elenco tem ainda o premiado ator inglês Paul Scofield, Joan Allen, Bruce Davidson, Peter Vaughn. Mas não teve grande sucesso embora indicado a Oscars de atriz (Allen) e autor (Miller), Globo de Ouro (Allen, Scofield), Bafta (indicado como roteiro ganhou como ator para Scofield). Mas nunca foi o sucesso tão esperado.

O problema desta versão é a luta política que rolava na época, quando o governo francês admitia e ajudava a fazer filmes na Berlim Oriental, sempre aproveitando para falar dos americanos (que por sua vez ainda perseguiam os comunistas americanos!). Com resultados discutíveis de tal maneira que o remake com Daniel Day Lewis, era mais simples e a diretora menos demagógica ainda que denunciando a ação dos corruptos e não dos supostos bruxos. É interessante porém que a versão do astro Montand e sua então esposa Signoret (ambos já falecidos, eram na ocasião o símbolo da esquerda européia!). Eventualmente se divorciaram. Mas a figura deles era na época carismática e lendária. Só por isso já vale ver o filme que ha anos não circulava.

 

INQUISIÇÃO

A Espanha foi um dos lugares do mundo católico que mais sofreu com os absurdos e exageros da Igreja Católica. Principalmente com a chamada Inquisição, que durou por volta de dois séculos e perturbou grande parte da Europa católica, provocando torturas e mortes. Aqui é sobre um general que caça bruxas que se apaixona para um belo jovem de uma aldeia, mas que fez um pacto com o diabo para seduzir e condenar o homem que está matando as servidoras de Satã. O ator diretor Naschy (1934-2009) se autodenominava o pai do cinema de terror da Espanha. Teve 121 créditos como ator e 23 como diretor, mas esses trabalhos praticamente não circularam no Brasil e nem são cultuados pelos fãs do gênero. Ou seja, será que merece alguma atenção?

 

O CAÇADOR DE BRUXAS

Um filme cult de terror que foi feito pelo jovem diretor Reeves (1944-69), que morreu de overdose de drogas, logo depois de ter feito este trabalho, o quarto de sua curta carreira. É inspirada em texto de Edgar Allan Poe (de quem Price fez várias adaptações) e tem ainda rastros de sua época com bastante violência e muitas cenas de nudez casual. Tem gente que acha que é o melhor momento da carreira de Price, mas também pode ser desagradável e que mal pode ser considerada terror. Apenas uma curiosidade.

 

O MARTELO DAS BRUXAS 

Baseando-se em registros históricos dos julgamentos de “bruxas” numa cidade tcheca entre 1678 a 1695, Otakar Vávra, realizou uma obra alegórica sobre a intolerância religiosa. Embora tenha sido exibido no Brasil, há poucas referencias sobre este filme tcheco, do diretor da Boemia Otaka Vávra (1911-2011) que tem 54 créditos como diretor (e mais nenhum outro filme conhecido aqui!). Foi premiado em Mar del Plata, como melhor filme e prêmio da crítica. Sinopse: “No século 17, Maryn pede esmolas, mas guarda seus segredos para a comunhão. Ela admite para o padre da paróquia que pretende tentar curar sua vaca. Isso faz o padre a declarar bruxa e convencer a condessa que ela é má e assim chamam o Inquisidor. O mal sucedido estudante da lei resolve aproveitar a situação e força as mulheres a testemunharem seus encontros com o diabo. Acusa todas de demoníacas querendo tomar suas posses”. Os produtores do filme garantem que o assunto utilizou documentos reais, apreendidos entre 1678 e 95, e alguns críticos quiseram provocar a possível semelhança com o McCarthismo americano e com o que sucedeu em Praga, na chamada Primavera, quando os comunistas invadiram o país. Com destaque especial para o fato que são as mulheres as vítimas.