Marrocos ***
Este foi o filme que iniciou o estrelato da alemã Marlene Dietrich (1901-92) nos EUA, após o furor de O Anjo Azul, onde foi comparada com Garbo e teve uma indicação para o Oscar. Novamente é uma história de amor louco e insensato, só que agora com Marlene como vítima e não mais algoz. Outra vez dirigida pelo seu mentor e amante austríaco von Sternberg (1894-1969) e fotografada espetacularmente no exótico Marrocos então francês recriado com capricho nos estúdios da Paramount pelo mestre Lee Garmes. Como em todo o trabalho de von Sternberg, o visual é meticulosamente cuidado (sempre em favor de Marlene), há um clima meio onírico e irreal (em especial nas impressionistas cenas de batalha e no final surpreendente) e as estranhas, até perversas, relações dos personagens dão uma visão do amor que mais faz pensar em insanidade e doença. Um tremendo sucesso no lançamento, não causa o mesmo impacto hoje, em especial em comparação aos trabalhos seguintes de Von Sternberg. Mas é importante para perceber como o diretor transformou Marlene em um mito bissexual (é daqui a famosa cena em que beija na boca uma moça da plateia). O visual apurado valeu indicações aos Oscars de fotografia, direção de arte e para Von Sternberg.
Vênus Loira, A ****
Teria tudo para ser hoje um filme esquecido esse melodrama da Paramount, de roteiro defeituoso e inverossímil. Se não tivesse sido um dos filmes (o quarto) que o austríaco Josef von Sternberg (1894-1969) fez para sua musa e grande paixão Marlene Dietrich (1901-92). Com seu estilo barroco e exagerado, lindamente fotografado e composto e com tudo, até os ambientes mais miseráveis, cuidadosamente estilizado, Von Sternberg dá aqui novamente sua visão peculiar de Marlene, como uma mistura de santa e pecadora, de Paraíso e Inferno. Ela faz uma cantora alemã que se casa com um químico pobre (Marshall), criando com ele seu espertíssimo filhinho (o ótimo Dickie Moore). Só que o marido acaba envenenado por rádio e precisa de um caro tratamento, que ela resolve custear voltando aos palcos, onde conhece um milionário (Cary Grant) de quem se torna amante para obter o dinheiro. Quando o marido se cura e descobre tudo, a repudia, tencionando tomar dela o filho e obrigando-a a iniciar uma fuga com o menino. Tudo é muito ambíguo e explicado com meias-palavras, e o filme nunca deixa claro o quanto Marlene é apaixonada por cada um deles nem se preocupa muito em explicar o que está acontecendo. Mas Marlene está linda e inesquecível, em especial em dois de seus momentos emblemáticos: cantando de fraque branco I Couldn´t Be Annoyed e, vestida de gorila e se desnudando aos poucos, no Hot Voodoo (sequência que Bertolucci homenageou em Os Sonhadores). Talvez justamente por sua falta de realismo o filme envelheceu muito bem, com a pobreza da trama amplamente compensada pela atmosfera e pelo delírio da direção de Von Sternberg. Experimente.
O Expresso de Shangai ****
Indicado ao Oscar melhor filme e diretor e premiado com o de fotografia, este é um dos maiores momentos de Marlene Dietrich sob a guarda do seu descobridor e mentor Josef Von Sternberg. Ele gostava de fazer essas fantasias orientais, com figurino notável e exótico, tudo reconstruído em estúdio. Também a direção de arte é toda requintadamente artificial, claro e escuro, entre o expressionismo e a “chinoiserie”. Deste começo de carreira em Hollywood este é sem duvida o melhor momento da estrela que tem frases memoráveis (Foi preciso mais de um homem para me tornar Shanghai Lil). Pode ser até bizarro para quem nunca viu antes um filme da dupla, com um clima romântico e trágico. E bem datado.Chegou a ter problemas com a censura que pediu mudanças no personagem do pregador e com a China que se sentiu ofendida (a Paramount teve que jurar que não faria outro filme sobre a política chinesa). Marlene em sua autobiografia afirma que foi Sternberg quem cuidou da fotografia e não Garmes. O estilo do filme quer refletir o ritmo de uma viagem de trem, influenciando assim a montagem mais rápida e o dialogo entrecortado. Foi o campeão de bilheteria do ano nos EUA.
Desonrada **1/2
Quando Marlene Dietrich veio da Alemanha sob as ordens do cineasta Josef Von Sternberg, que a havia lançado em Anjo Azul, os dois continuaram a fazer juntos filmes sofisticados sob o total controle do cineasta (que foi mestre dela mais do que simples namorado!). Os filmes no início tiveram uma grande repercussão, mas acabaram se tornando repetitivos e mal sucedidos, até quando a dupla foi obrigada a se separar para manter a carreira profissional (Marlene ainda se recuperaria, mas Sternberg nem tanto, embora o gênio fosse ele). Dos primeiros filmes da dupla, este é certamente o menos conhecido e apreciado (Gary Cooper que tinha feito sucesso antes com Marlene recusou o papel). E no lugar veio o então famoso McLaglen, que tinha um tipo grosseiro e iria sobreviver durante anos porque era grande amigo do diretor John Ford, que sempre o colocou como coadjuvante. Mas está longe de ser um galã convincente. De qualquer forma, na época, o filme ainda se sustentava por causa de seu glamour e a aventura de espionagem (Marlene era considerada uma enorme beleza e na verdade quase todo resto de sua vida). O chefe do Serviço Segredo da Áustria procura alguém no estilo Mata Hari, ou seja, uma espiã para descobrir os segredos dos russos. Miss Dietrich usa o nome de X27! E está sempre com um gato preto! (diziam que ele roubava o filme e era a grande figura dele!). Também se elogiaram os figurinos de Miss Dietrich, mas sua missão era seduzir o General von Hindau! E logo começa a descobrir os segredos.,Tudo isso irá levá-la a uma corte marcial e também a uma sentença de morte. Mas com o direito dela escolher seu melhor vestido! Ou seja, é um filme muito raro e que não é para levar a sério. Por outro lado, é um sinal muito curioso de sua época!