É até possível que Jodie Foster ganhe um terceiro Oscar de atriz (NE.: crítica original realizada no ano do filme, 1994) por este Nell (apenas Katharine Hepburn teve quatro prêmios de atriz protagonista, Ingrid Bergman teve três mas um de coadjuvante) o que seria exagero mas não exatamente uma injustiça. Jessica Lange está melhor do que ela em Céu Azul, mas Jodie é uma atriz competente, que sabe lutar por seus projetos (aqui ela foi também produtora). Hollywood gosta dela desde os tempos em que era atriz juvenil.

Nell porém tem qualidades e defeitos bem marcantes. A história é diferente e passada num paisagem paradisíaca (Vale do lago Fontana, nas montanhas Smoky, Sudeste dos EUA), com uma fotografia esplendida. É sobre um médico do interior (Liam Neeson em seu primeiro filme desde A Lista de Schindler) que descobre vivendo isolada numa cabana das montanhas, uma jovem de idade indeterminada que ficou sozinha depois da morte de sua pobre mãe, por sua vez vítima de estupro que deu origem a moça. O problema é que essa garota viveu a vida inteira isolada do mundo e fala uma linguagem própria e desconhecida, quase uma "mulher lobo". Aos poucos vai se descobrindo segredos do passado da heroína (ela tinha uma irmã gêmea que perdeu num acidente) e que a língua que fala é uma corruptela de inglês. O fato inusitado chama a atenção de uma psicóloga (Natasha Richardson, filha de Vanessa Redgrave e na vida real, mulher de Liam Neeson) que também vai ficar perto dela e estuda-la. Enquanto os vilões são a imprensa que ameaçam tornar a vida da moça um inferno e os cientistas (que pensam em interná-la para estudar seu caso único na história).

O roteiro porém é muito discutível, não tem coragem de criar um romance entre o médico e Nell, deixando mais como cupido. E se Jodie impressiona falando aquela linguagem inventada, o filme todo desmorona ao final quando de repente num julgamento a personagem fica toda loquaz, inteligente, capaz de raciocínios brilhantes. É uma conclusão quase ridícula que prejudica muito um filme que realmente não consegue convencer. Talvez tenha sido essa uma tentativa de torna-lo mais acessível ao público, mas foi o que atrapalhou muito o seu êxito.

Jodie errou também numa coisa, por causa do papel, ela tem que aparecer nua algumas vezes, pela primeira vez em sua carreira. Mas a moça não tem corpo para isso. Faria melhor se tivesse escolhido uma dublê de corpo. Os especialistas que forem conferir irão perceber logo porque.