Há toda uma geração de admiradores de Harry Potter que vão receber com satisfação o retorno da autora J.W. Rowling (ou Joanne), não apenas partindo para um novo projeto como também pela primeira vez escrevendo um roteiro para o cinema e ao que prometeu serão cinco filmes da série, um a cada dois anos e todos eles dirigidos pelo mais bem sucedido diretor de Potter, o competente David Yates (que veio da TV, fez 4 filmes da série, o recente Tarzan). É interessante saber também que ela concluiu a obra em 2001 e já cedeu os direitos destes livros para ajudar organizações que cuidam de crianças pobres. E que toda a história aqui seria simultânea com o que estaria acontecendo com Potter e sua escola. Assim no universo de Potter, a história atual teria sido concebida em 1927 e se tornado um grande sucesso e um dos textos aprovados para leitura na Escola de bruxaria de Hogwarth. Ou seja, quando por volta de 1990 em que Potter estava na escola, o livro já estaria em sua edição 52!
Rodado basicamente na Inglaterra em Liverpool e Bedforshire, o filme é notável também por misturar alguns atores veteranos e subestimados com outros pouco conhecidos e que deverão se tornar estrelas em breve. Gostei especialmente de quem faz o alivio cômico, o amigo fiel Dan Floger, que no fundo deseja ser apenas um padeiro. Vencedor de um Tony pelo musical Spelling Bee, nunca teve maior chance nos filmes, mas é um dos pontos altos com seu tipo gentil e bonachão. Mas tem outras revelações que incluí a ruiva e sedutora Porpentina, feita de maneira irreconhecível por Katherine Waterston, que é filha do bom ator Sam Waterston. Não para por aí, todos os coadjuvantes (tem até aparição surpresa) são competentes e tem sua função, alguns deles famosos (Jon Voight, Samantha Morton), o há muito subestimado Colin Farrell fazendo agora o super vilão, outros prestes a se tornarem estrelas como a suntuosa mulata Carmen Ejogo, que faz a chefe. Sem esquecer o talentoso e aqui irreconhecível Ezra Miller (que faz aqui uma vítima e esteve ótimo Credence depois de marcar tanto em Precisamos Falar sobre Kevin, As Vantagens de Ser Invisível e os recentes como Flash em Esquadrão Suicida e Liga da Justiça).
Por outro lado, me pareceu discreto aqui o protagonista que é outro britânico já premiado com o Oscar, o ruivo Eddie Redmayne como Newt Scamander, justamente quem tem a missão de encontrar e proteger todos os bichos monstruosos e esquisitos que estão livres e aprontando em Nova York. Mas o interesse romântico dele é fraco e nunca chega a ser o herói que se espera. Mas é coisa de menos, já que é basicamente um filme de grandes eventos, excepcional direção de arte de época, adequada fotografia soturna, mas que ao mesmo tempo precisa mostrar lugares e situações novas (e infelizmente tem um momento que sem querer lembra um pouco a conclusão de Doutor Estranho!). Não falta humor também embora não tenha me parecido adequado a crianças pequenas ainda não preparadas para o ataque de tantos bichos exóticos.
O fato é que embarquei no filme sem restrições apreciando inclusive a habilidade da roteirista que nem parece estreante. Sem dúvida, boa e suntuosa diversão!