Crítica sobre o filme "Batman: A Piada Mortal":

Rubens Ewald Filho
Batman: A Piada Mortal Por Rubens Ewald Filho
| Data: 13/08/2016

Batman - A Piada Mortal

Por Adilson de Carvalho Santos

Segundo o filósofo alemão Friedrich Nietzsche se você olhar demais para o abismo, então o abismo olhará para dentro de ti. O escritor Alan Moore soube como aproveitar essa análise e levar a luta entre herói e vilão a um novo patamar criando uma das melhores histórias do Batman de todos os tempos, que agora é adaptada pela Warner. A animação é lançada nos cinema em exibição única, logo após sua premiére na tradicional San Diego Comic Com, e depois lançada direta no formato de Blu ray e DVD nos EUa, por aqui o DVD será lançado dia 4 de agosto.. Mas do que se trata a HQ original ?

Lançada em Março de 1988, a graphic novel “Batman The Killing Joke” foi escrita pelo britânico Alan Moore e desenhada por Brian Bolland. Moore ganhou destaque na segunda metade da década de 80 nas HQs do Monstro do Pântano (Swamp Thing) além de duas histórias icônicas do Superman que serviram de canto do cisne para o personagem pré-crise. Com o Batman, Moore dividiu a história em duas linhas temporais: O embate entre o homem morcego e o Coringa e, em paralelo, o passado do vilão insano adaptando livremente a clássica história “The Man Behind The Red Hood” (fevereiro de 1951) que tratava da origem do Coringa. Moore mergulha fundo na psique dos dois antagonistas, mostrados como reflexos distorcidos um do outro.

O Coringa vai até a casa do comissário Gordon, atira em sua filha Bárbara (a Batgirl) e a sequestra depois de tirar várias fotos. O Palhaço leva pai e filha ao um parque de diversão abandonado, onde acorrenta o Comissário obrigando-o a ver as fotos de Barbara ferida e nua. O propósito do vilão é provar que qualquer um pode enlouquecer se tiver um mau dia. Batman persegue o vilão determinado a acabar com ele e o que se segue é um embate não só físico, mas também psicológico entre os personagens.

A história é tratada por Moore com teor adulto, sem fazer concessões e reforçada pela magnífica arte de Brian Bolland, em cores berrantes que transmitem a loucura do herói e do vilão, cada um movido pelos respectivos papéis de agente da ordem e caos, forjados pelas tragédias que lhes ocorreram no passado. O impacto da graphic novel foi incorporado pela continuidade mostrando depois que Barbara Gordon ficara paraplégica, e impossibilitada de voltar a ser a Batgirl, criando para si a identidade da hacker Oráculo, mas isso já é outra historia. “Batman A Piada Mortal” foi publicada quando Batman comemorava 50 anos de sua criação por Bob Kane e Bill Finger, tendo o Coringa sido criado por estes com o artista Jerry Robinson. Pouco antes, Frank Miller havia recontado a origem de Batman em “Ano Um” junto do artista David Mazzuchelli e projetado seu futuro na icônica “Batman O Cavaleiro das Trevas” Juntamente com a história de Moore, estas exerceriam grande influência no tratamento que o cinema e TV dariam em diversas adaptações como filmes ( Tanto Tim Burton quanto Christopher Nolan admitiram ter se inspirado na versão do Coringa de Moore) , a clássica animação “Batman Animated Series” e , mais tarde, em jogos.

No Brasil a graphic novel chegou pela primeira vez em 1989 publicada pela Editora Abril, tornando-se um sucesso de vendas, e sendo republicada tempos depois. Curiosamente, seu autor sempre renegou a obra uma vez que seu relacionamento com a editora se deteriorou ao longo do tempo. Moore hoje com 62 anos declarou que detesta a história, tendo escrito apenas uma história centrada em dois personagens sem nenhuma conexão com a vida real. Apesar de seu desdém, Moore foi maestro em fazê-lo, deixando o final em aberto, mexendo com a imaginação dos leitores. O autor também escreveu outras obras adaptadas para o cinema como “V de Vingança”, “A Liga Extraordinária”, “Watchmen” e “Do Inferno”, e sempre alegou não ter gostado de nenhuma. Houve quem criticasse a graphic novel acusando Moore de sádico e violento, o que este simplesmente ignorou.

A animação feita agora traz de volta os dubladores Kevin Conroy (Batman) e Mark Hamil (Coringa) – sim o mesmo ator que interpreta Luke Skywalker – para as vozes dos personagens. Para muitos essa é a história definitiva sobre o Coringa, para outros uma das melhores mas o que fica é a certeza que sanidade e loucura é separada por uma fina linha divisória, uma que não importa se você se veste de morcego ou se pinta de palhaço, você caminha por ela e quando percebe o abismo já o engoliu.