Não tem sido uma época de sorte para Tarantino. Primeiro o roteiro deste filme foi pirateado e por isso o projeto quase foi cancelado. Depois comprou uma briga com a polícia de Nova York que pode ter consequências imprevisíveis e finalmente uma cópia excelente deste faroeste foi distribuída pela pirataria e com certeza deverá prejudicar a carreira de seu filme. Que além disso tem um complicômetro, ele foi rodado em 70 milímetros (ou seja com negativo desse tamanho, coisa que não acontecia desde o fim dos anos 60, quando caiu em desuso o Cinerama e semelhantes. Sem dúvida, isso dá mais qualidade às imagens, mas no Brasil não restou nenhum projetor deste formato e a cópia será digital).
Produzido pelos fiéis Irmãos Weinstein, o faroeste (um gênero ate agora fora de moda) traz como principal atração a trilha musical do genial Ennio Morricone que afinal das contas foi o mestre dos spaghetti Westerns. Mas porque custou a ficar pronto, o filme só teve indicações para o Globo de Ouro (trilha musical, roteiro e atriz coadjuvante Jennifer). Também por ser muito falado e em grande parte passar-se num único cenário (uma cabana no meio da paisagem gelada), o filme tem sido comparado com seu primeiro trabalho Cães de Aluguel (92). E apesar de não ser um clássico, ainda pode agradar quem gosta do gênero. E do diretor (que não faz ponta mas é ouvido narrando certos fatos na parte final). Um detalhe: o filme é capitulado.
Começa durante tempestade de neve no Wyoming depois da Guerra Civil, repleta de Caçadores de Recompensas que procuram abrigo numa diligência que esta carregando justamente um desses caçadores, o John Ruth (a melhor interpretação em anos de Kurt Russell) que leva sua prisioneira Daisy Domergue (não gosto de Jennifer Jason, uma atriz composta e sem humanidade). Quem surge no caminho deles é outro aventureiro, o Major Marquis Warren (o melhor ator do filme e que tem sido injustamente esquecido pelos prêmios, Samuel L. Jackson está excelente!). Logo um terceiro vem se juntar ao grupo que se diz o novo xerife de uma cidade vizinha Chris Mannix (Tarantino deu grande chance ao ator Walton Goggins, que foi descobrir nas séries de TV Justified e Sons of Anarchy. Já esteve antes em Lincoln e Django Livre).
Finalmente eles chegam a um casebre que seria uma espécie de restaurante a beira da estrada, onde o frio e neve são ainda mais intensos. Lá estão um veterano General de Guerra racista (Bruce Dern), Oswaldo, um inglês que seria o enforcador (Tim Roth), Bob um mexicano (o ator Demian, que mal se identifica), o pistoleiro Joe Gage (o habitual de Tarantino Michael Madsen). Começam então as ameaças, as revelações, conflitos e brigas, realmente muito centradas no diálogo, que são quebrados ocasionalmente por tiroteios e ajuste de contas. Faço reparo a algumas falas nos diálogos quando Tarantino utiliza frases e conceitos que não existiam na época em que se passa a história. Como chamar alguém de paranoico (conceito que só se espalhou com Freud) ou Sales Pitch (truque para vender uma ideia). Desatenção do autor.
Não se pode dizer que o filme seja cansativo apesar de sua longa metragem, até porque há cenas violentas de “gore” e um final surpreendente como seria de se esperar. Talvez Django Livre tenha sido mais criativo e ousado pela própria temática. Este aqui é um divertimento do diretor, com sua habitual verve e métodos. Como admirador dele, achei o resultado interessante e estou mesmo disposto a revê-lo.