Às vezes acho que estamos exagerando em importar tudo que é filme, mesmo quando não tem esperança de fazer sucesso ou alcançar um público mais amplo. Seria o caso deste modesto drama B, feito por um diretor estreante em longa, que quando estreou nos EUA faz algum tempo competia com outro com titulo semelhante, já visto aqui chamado apenas Quarteto e dirigido por Dustin Hoffman, também sobre música erudita, ainda que cantores líricos (e no elenco tinha Maggie Smith, Michael Gambon, Tom Courtenay, Pauline Collins e uma narrativa mais leve, em tom de comédia). Também houve outros Quartetos, em 1948, britânico que era coletânea de contos de Somerset Maugham, um japonês de 2011 (Karutetto!) e um Quinteto (79, de Altman, com Gasssman e Paul Newman). E outro Quartet (81) de James Ivory que no Brasil virou Luxúria, com Ajdani e Maggie Smith. Da Itália, o diretor Fabio Carpi (que era da nossa Vera Cruz) fez em 83 o melhor deles, Quarteto Basileus.
Este aqui é mais solene e convencional, rodado em lugares autênticos de concertos ate então fechados ao cinema (o Grace Rainey Hall no Metropolitan Museum, onde se apresentou pela última vez o celebre Quarteto Guarnieri, na Galeria Frick Colletion) e menções de Pablo Casals, por exemplo, são autênticas. Ou seja, não há duvido que é um filme refinado, com um elenco impecável e sóbrio, que usa o nome fictício de Fugue String Quartet, que tem se mantido integro por 25 anos. Parece que há uma coisa importante a ser dita sobre esses artistas, que para os músicos de câmera é fundamental a unidade, que todos pensem, sintam e respirem com um único bloco, e que os seus instrumentos são veículos para passar emoções. E sem essa paixão, uma performance não pode vir a ser apenas um feito técnico. É preciso deixar qualquer desencontro para que todos cheguem a essa unidade.
O foco central do filme é quando o Quarteto toca uma peça de 40 minutos em sete movimentos, mas sem pausa. A versão musical do filme é tocada pelo Quarteto de Cordas Brentano de 40 minutos, do Quarteto em C Menor Op. 131.
Todo o conflito da história se inicia aqui quando um dos membros do grupo, Christopher Walken (desta vez discreto e sempre convincente, não fazendo o tipo de costume) como Peter Mitchell e mais velho que os outros, anuncia que irá deixar logo o grupo e que a próxima temporada devera ser a última. Sofre da doença de Parkinson. Ele também ainda está de luto pela morte recente de sua mulher. Tudo isso deflagra uma crise no grupo, em particular com Robert Gelbart (Hoffman), que deseja compartilhar o lugar com o primeiro violino Daniel (Ivanir). Sua mulher o acusa de insensível e ambicioso, o que acaba provocando uma infidelidade. Por outro lado, a filha deles começa também um casinho com o professor, que é Daniel (Ivanir) o que terá suas consequências. O recém-falecido Hoffman como sempre parece arredio e distanciado, deixando a dúvida se é uma interpretação técnica. Ou o personagem é para ser assim.
O resultado talvez possa ser apreciado como esquemático, mas é compreensível porque interessa a um povo restrito e especifico, mas também muito exigente. E esse espectador que ama a música erudita deve se empolgar com um belo e delicado filme. Para poucos mas exigentes espectadores.