Este é um momento ruim para lançar filmes brasileiros por causa das salas lotadas com blockbusters (mais chegando) e a proximidade da Copa e suas consequências. Mas este é um filme particular, de baixo orçamento (realizado num único set, pedaço de um apartamento, financiado pelo Canal Brasil) e que não se preocupa em esconder a narrativa televisiva (não faz nem um único plano externo). Seu maior trunfo é a rara presença estrelar de Regina Duarte madura, que sempre foi uma boa atriz que nem sempre teve as oportunidades de demonstrar seu talento. A facilidade com que interpreta em particular na televisão, dominando o veiculo, a deixou sempre num segundo plano no cinema apesar de alguns bons trabalhos (Além da Paixão). Menos do que merecia.
Seu retorno agora é conduzido por um diretor talentoso, Rafael Primo (agora Primot), que anos atrás me chamou para fazer uma aparição num curta dele, Manual para Atropelar Cachorro, que me deixou bem impressionado.Desta vez ele envereda num drama que coloca em conflito duas mulheres. Carol (Barbara Paz, boa atriz, outra subestimada) é uma jornalista que vem entrevistar uma escritora, Gloria Polk (Regina), que foi famosa feminista e que agora esta preparando um retorno com novo livro depois de ausência de anos. Só depois que descobrimos que elas são aparentadas, já que Carol vive com o ex-marido de Gloria, a quem deu um filho (Gloria teria três filhos mais velhos que são apenas citados e uma ligação afetiva com outra mulher que não é desenvolvida. Seu problema atual é encontrar um final para seu livro e exercitar seu talento para cozinhar comidas exóticas).
As conversas entre elas (com muitos closes) segura bem o espectador, mas Primot não resiste a tentação de citar seus filmes favoritos (de Gata em Teto de Zinco Quente a Crepúsculo dos Deuses, só que os escritores que ficaram menores não os atores). Pior que isso envereda pelos caminhos de Baby Jane, caindo num terror duvidoso.
Não acredito que o final seja satisfatório e teria preferido um pouco mais de humor no caldo. Regina foi escolhida melhor atriz no Festival do Rio do ano passado e com toda razão e justiça. Agora que façam para ela outro filme e personagem maior que a vida, que Regina merece.