Sempre achei o filme anterior do diretor iraniano super estimado, sem chegar a ser a obra-prima que todo mundo decantou e que levou o Oscar® de filme estrangeiro. Mas sem dúvida era forte, contundente, humano e sem papo furado. O momento da verdade chega agora com este seu sexto longa, que ele foi rodar sabiamente na França (já que a situação da censura no Irá esta de mal a pior). Se não chega a ter o mesmo impacto, ainda se sente uma mão segura por trás das situações (e chegou a dar a argentina Bérénice, a estrela de O Artista, o prêmio de melhor atriz em Cannes. E também o prêmio Ecumênico, uma indicação ao Globo de Ouro, ao César em 5 categorias (mas não levou nada). Foi indicado oficialmente pelo Irã para o Oscar® estrangeiro mas não ficou entre os finalistas. Ou seja não teve a consagração que se previa.
Não há dúvida que mesmo sendo inferior ao anterior, O Passado sem trazer nada de novo (mesmo a protagonista está especialmente brilhante) ainda interessa e prende a atenção. Quem iria fazer o papel central era Marion Cotillard, que teve que largar o filme por causa de compromissos anteriores com Ferrugem e Osso. Uma rodagem complicada porque o diretor não fala francês e teve que se comunicar com a equipe por interpretes assim como o ator central Ali Mosaffa (filho de famoso poeta iraniano, ele não é conhecido fora de seu país e aqui usa obviamente uma peruca! já que é careca). O filme levou quatro meses em rodagem porque o diretor insistiu em dois meses de ensaio!!! Na verdade não faz grande diferença que tenha sido rodado na França, porque quase tudo ocorre em ambientes interiores dentre portas e janelas de um subúrbio pobre de Paris.
Bérénic é Marie, que esta separada há quatro de Ahmad (Mosaffa) que vem do Irã para finalizar o divórcio deles. A principio ele é o observador tranquilo de tudo, principalmente de Marie com seu novo namorado, Samir (Rahim, que desde O Profeta virou um dos galãs favoritos da Europa) e os três filhos que vivem com eles. E como sempre são as crianças os maiores perdedores nesse tipo de conflito familiar. E vai se criando a tensão entre os dois homens. Samir cuida de uma lavandeira perto da farmácia onde trabalha Marie. Um dos filhos Fouad não é de Marie, ex-de Samir, que esta em coma há alguns meses. Ahmad é mais próxima de Lucie de 16 anos, que parece esconder algo. A crítica elogiou muito o filme porque o roteiro vai aprofundando os fatos sem tomar partido. De fato, quem aprecia o gênero e os filmes orientais, é muito capaz de embarcar neste.