Crítica sobre o filme "Viva a Liberdade":

Rubens Ewald Filho
Viva a Liberdade Por Rubens Ewald Filho
| Data: 09/07/2014

No mesmo ano em que também estrelou A Bela que Dorme de Bellochio e o premiado com o Oscar® A Grande Beleza, o grande ator Toni Servillo, até então praticamente desconhecido no Brasil, também fez este outro filme extraordinário sobre política (e também cinema, já que o personagem é admirador do cinema, há uma sequência de arquivo em que aparece Fellini dando entrevista e outro personagem importante é um diretor oriental - que seria famoso e importante - que agora é casado com sua antiga namorada, a Bruna Tedeschi). Ou seja, cinema é um contraponto para o filme que se classifica como comédia satirizando de forma muito cínica mas gentil, se isso for possível, o que é a Política na Itália dos últimos anos, em particular a oposição que estava completamente perdida , tão muda e cansada quanto o protagonista do filme que seria o chefe dela, Enrico Oliveri (que tem uma crise e some, indo para a casa desta ex mulher!). O curioso é que Enrico tem um irmão gêmeo (bipolar e considerado irresponsável) Giovanni Ernani, que é confundido com o político. Isso o diverte e não demora está dando entrevistas e fazendo discursos, que a imprensa e mesmo o público devora feliz. Giovanni salva o partido enquanto o irmão, que não se veem há muitos vinte e cinco anos, mergulha mais na Depressão.

Naturalmente quem faz os gêmeos é o mesmo ator, o sublime Toni Servillo, que sabe fazer humor com discrição, às vezes só com um sorriso como arma.  Não sei como foi possível este homem de teatro passar tantos anos sem praticamente fazer cinema (o primeiro é de 1992, ele é de 1959, e só nos anos 2000 que realmente vira astro de filmes). A sequência dúbia final é outro primor de sutileza que nos faz abrir um grande irônico sorriso. Também é interessante saber um pouco mais sobre o diretor que para nos é praticamente desconhecido.

Roberto Andò (1959-) é diretor e roteirista italiano que acertou unindo-se ao ator Toni  Servillo no brilhante Viva a Liberdade!, que lembra a Grande Beleza na sua critica aos políticos italianos.  Nascido em 11 de janeiro em Palermo, Sicilia, Andò é também autor do livro original Il Trono Vuoto que deu origem ao roteiro e o filme. Seus outros trabalhos não foram exibidos no Brasil. Sua formação é literária e seu mentor foi o grande escritor Leonardo Sciascia, que o lançou na imprensa e no cinema como assistente de Francesco Rosi, depois Fellini (em E la Nave Va), Michael Cimino e Coppola (Poderoso Chefão III). Estreou no teatro em 1987 dirigindo texto de Calvino. Depois fez documentários e se tornou diretor do Festival de Palermo e da Orestiadi de Gibelina.Seu primeiro longa, Diario Senza Date, impressiona o diretor Tornatore que produz o filme seguinte, Il Manoscritto del Principe.

Viva La Libertà ganhou os David de Donattelo de roteiro e  coadjuvante (Valerio Mastandrea, que faz o assistente que acompanha o herói), mas foi indicado também como  filme, produtor, coadjuvante (Anna Boiauto), atriz (Valeria), ator (Toni), som, maquiagem, penteados e efeitos visuais.

Coloco o filme desde já entre os melhores do ano.