Não é fácil se livrar de um personagem que o tornou famoso. Vejam o que sofreu o coitado do Sean Connery para se livrar da pecha de James Bond e agora o Daniel Radcliffe com Harry Potter. Este chegou mesmo a ficar pelado em cena (Equus) na Broadway e depois fez um musical Como Vencer na Vida sem Fazer Força (que eu ate vi e gostei). Mas é evidente que procura sua identidade como ator, limitado por seu tipo físico, pequenino e não exatamente um galã. Geralmente o que os agentes indicam é que escolha personagens diferentes e se possível homossexual (já repararam como homem ganha sempre premio ao fazer gay e mulher fazendo prostituta!). Daí sua presença neste thriller intelectual que procura mostrar a vida sexual e antes da fama de alguns escritores notórios da Geração Beat (ou Beatnik).
Feito por um diretor estreante intelectualizado formado em Yale, tem uma história curiosa. Radcliffe fez teste e foi escolhido para fazer o personagem de Allen Ginsberg antes de rodar os dois últimos filmes da série Potter. Mas acontece que não conseguiram dinheiro e o filme foi adiado. Ao retomá-lo mudaram parte do elenco (que tinha antes Chris Evans, Jesse Eisenberg e Bem Whishaw). Nos EUA não rendeu mais de um milhão de dólares, mas conseguiu prêmios na Europa (Cork), Indicado ao Bafta e concorreu em Sundance e também para o premio Gotham (independente de Nova York).
Quem já ouviu falar em Allen Ginsberg como um dos poetas mais queridos da América, tem sua imagem como uma figura gorda, benevolente, ou como o chamavam, “o Buda da Contracultura”. Vai se surpreender de vê-lo na figura de Daniel, quando justamente está começando carreira na faculdade de Columbia, em Nova York, onde se envolve com um grupo de rebeldes intelectuais. Ele veio de Nova Jersey e durante a guerra (1944) saiu de casa, usa óculos e roupas formais (pode ser que lembre mesmo Harry!). Seu pai é poeta razoavelmente conhecido e a mãe uma figura instável. Mas os críticos notaram que Allen/Radcliffe é mais um observador do que um seus colegas mais brilhantes e instáveis. Entre eles esta Ben Foster, como outro futuro escritor William Burroughs (Naked Lunch), que veio de família rica, estudou em Harvard mas se interessa mesmo por drogas e pornografia. Jack Kerouac (On the Road) vivido pelo neto de John Huston, Jack é um ex-esportista que esta com uma garota (irmã das gêmeas Olsen, Elizabeth). Todos estão ali para permitir ao diretor retratar a Gênesis do movimento Beat, se bem que a figura mais marcante seja a menos famosa, Lucien (vivido por Dane, agora famoso como o novo Goblin de Homem Aranha) que é um provocador, anárquico e que mantém uma relação complicada como um homem mais (Michael C. Hall, o Dexter), que escreve seus trabalhos de escola em troca de sexo. Que desbanca para a violência e a tragédia.
Acho que para quem conhece os personagens e sua obra ainda que por cima, o resumo já parece bem atraente e curioso. Ainda mais porque o episódio relatado era até muito pouco tempo secreto e não divulgado. Porque tem uma história policial, de crime digamos, mas com ênfase no lado gay e na poesia, em como as duas se unem e ate complementam. De uma certa maneira, também uma denúncia contra a repressão em todas as suas formas.